Mania de pequena grandeza leva Ramagem a ter o surto de Trump
Ainda não se sabe se a Polícia Federal recolheu na casa de Alexandre Ramagem material suficiente para condená-lo criminalmente no escândalo da Abin paralela. Mas já há elementos suficientes para atestar que o ex-chefe da Abin de Bolsonaro sofre de mania de pequena grandeza. Já se sabia que havia levado para casa computador e celular pertencentes à Abin. O UOL informa que Ramagem se apropriou também de papeis secretos sobre espionagem realizada em áreas do Rio de Janeiro controladas pelo tráfico de drogas e ambicionadas pelas milícias.
Com sua micromegalomania, Ramagem teve um surto de Donald Trump. Virou uma versão burlesca do ex-presidente americano, indiciado criminalmente por esconder documentos confidenciais do governo no seu resort particular, na Flórida, depois de deixar a Casa Branca. A diferença é que Trump tem chances reais de retornar à presidência dos Estados Unidos ainda que venha a ser condenado num dos inúmeros processos que o assediam. Ramagem, mesmo escapando de uma sentença, talvez não consiga manter até o fim o plano de disputar a Prefeitura do Rio.
Num governo convencional, um chefe de órgão de espionagem que subtrai documentos sigilosos comete apenas uma ilegalidade. Num governo como o de Bolsonaro, o ilegal contém um quê de escracho, pois o capitão impôs à sociedade 1.108 sigilos de cem anos. Pretendeu esconder por um século informações sobre o acesso dos filhos ao Planalto, reuniões com pastores que desviavam verbas no MEC e até o cartão de vacinação. O caso da Abin paralela mostra que Bolsonaro adorava bisbilhotar adversários. Mas detestava quem ousasse expor seus calcanhares de vidro.
No final de fevereiro, quando interrogar Ramagem, a PF decerto perguntará por que levou para casa o papelório sobre a espionagem das áreas do tráfico, feita por meio de informantes remunerados, com custo total de cerca de R$ 1,5 milhão. Nas mãos de um candidato a deputado federal, o levantamento pode ter sido de enorme valia, pois, o controle exercido pela criminalidade do Rio de Janeiro nas áreas pobres se estende às urnas.
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