Josias de Souza

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Opinião

O feitiço bolsonarista acabou enfeitiçado na praia das redes

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aplicou uma trava na PEC das Praias ao declarar que a votação não será pautada "da noite para o dia". Seja qual for o seu destino, essa proposta de emenda constitucional livrou a crônica da polarização de uma lenda. O feitiço da invencibilidade digital da direita bolsonarista acabou enfeitiçado na praia das redes.

Tendo como relator o primogênito Flávio Bolsonaro, a PEC transfere da União para proprietários privados terrenos situados na orla marítima, sob a supervisão de estados e municípios. A coisa passou na Câmara sem alarde. De repente, um alarido fez soar o alarme da especulação imobiliária.

Ambientalistas suscitaram os riscos à biodiversidade. Sacudiram o lençol do fantasma do bloqueio do acesso às praias por grandes resorts e condomínios de bacanas. A partir daí, um par de vídeos acendeu a luz para o debate.

Num, os mergulhadores Rodrigo Thomé e Rodrigo Cebrian associaram a PEC à ideia de "privatizar praias". A peça viralizou nas redes. O vírus tornou-se onda gigante quando, noutro vídeo, Luana Piovani enganchou a PEC das Praias no bolso de Neymar, garoto-propaganda de um luxuoso empreendimento no litoral nordestino. Ataques misóginos do jogador bolsonarista contra a atriz potencializaram o estrago.

Desde então, Flávio Bolsonaro desperdiça saliva em entrevistas e postagens. "Não tenho interesse pessoal nisso, não sou proprietário de área beneficiada, não estou levando dinheiro do Neymar nem do empreendimento que ele fará", disse o senador ao Globo.

Flávio esforçou-se para dar um aroma social à empreitada. Alardeou, por exemplo, que a PEC presentearia habitantes pobres da orla com títulos de propriedade. Mencionou os moradores do Complexo da Maré e os quilombolas da Restinga de Marambaia, no Rio.

O bolsonarismo deixou Flávio, por assim dizer, apanhando sozinho nas redes. Ainda que a milícia digital organize uma mobilização tardia, a essa altura já não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual o que move o primogênito não é a Maré nem a Restinga, mas a ideia fixa do pai de criar "uma Cancún em Angra dos Reis.

Zonzo, Flávio tem dificuldades para manter a língua na coleira. Na entrevista ao Globo, disse coisas assim: "A PEC não tem nada de agressivo às praias. Todo mundo gosta de ir a um resort em Cancún, em Miami, na Espanha, na Grécia. Queremos fazer um troço pequeno no Brasil para tentar estimular empreendimentos. [...] Infelizmente, para fazer empreendimento em Angra, Salvador, qualquer lugar de Alagoas, seguirá existindo toda uma burocracia ambiental."

Vivo, Cazuza cantaria: Brasil, mostra tua cara / Quero ver quem paga / Pra gente ficar assim / Brasil, qual é o teu negócio / O nome do teu sócio / Confia em mim."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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