Josias de Souza

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Opinião

Sobrevida concedida a Juscelino é insulto inútil e desmoralizante

Sempre que a oportunidade bate à porta de Lula, avisando que é hora de se livrar de Juscelino Filho, o presidente reclama do barulho. E mantém o personagem na Esplanada. Ao informar ao Supremo que o ministro das Comunicações foi indiciado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, a Polícia Federal pavimentou a trilha para a demissão do investigado. E nada.

Em política, como na vida, a melhor hora para mudar é antes que a mudança se torne necessária. A indicação de Juscelino poderia ter sido refugada em 2022, pois já era sabido na fase de transição de governo que o deputado havia utilizado emendas orçamentárias em benefício próprio.

Em março de 2023, quando o ministro já estava pendurado de ponta-cabeça nas manchetes, às voltas com múltiplas amoralidades, Lula declarou: Juscelino "não pode ficar no governo" se "não conseguir provar sua inocência". Mantido no cargo, Juscelino virou um padrão de inocência na gestão Lula 3.

Há dois meses, relatório da Controladoria Geral da União constatou que 80% de uma estrada pavimentada graças a uma emenda de Juscelino beneficiou propriedades dele e de seus familiares na cidade maranhense de Vitorino Freire. Coisa de R$ 7,5 milhões. Dinheiro da Codevasf, uma estatal convertida em ninho de perversões do centrão desde a gestão Bolsonaro.

Intimado pela PF a se explicar, Juscelino não conseguiu diluir a suspeição. O ministro se diz "perseguido". Em nova evidência de que não perde a oportunidade de perder oportunidades, Lula deu de ombros, mantendo o auxiliar no cargo. A sobrevida concedida a Juscelino é insultuosa, inútil e desmoralizante.

O insulto decorre do fato de que o contribuinte não merece a presença de um indiciado por desviar verbas públicas nas cercanias do cofre. A inutilidade fica evidente porque o União Brasil, partido de Juscelino, não entrega os votos que o governo reivindica no Congresso. A desmoralização cresce à medida que a presença do suspeito no governo vai se convertendo num processo de aviltamento da autoridade presidencial.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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