Lula endurece com Neri Geller e se compadece de Juscelino Filho
Na terça-feira, Lula autorizou a demissão de Neri Geller de uma secretaria do Ministério da Agricultura por suspeita de irregularidade no leilão para a importação de arroz. Ao anunciar o afastamento, o chefe da pasta, Carlos Fávaro, disse que o governo "não tem compromisso com o erro".
Nesta quinta-feira, Lula piscou para o paradoxo ao ser indagado sobre a ruína ética do ministro das Comunicações, Juscelino Filho. "Preciso que as pessoas provem que são inocentes. E ele tem o direito de provar que é inocente", disse o presidente ao desembarcar em Genebra.
Nenhum espelho reflete melhor a imagem de um governante do que as suas contradições. Geller foi ao olho da rua 48 horas antes que a Polícia Federal formalizasse a abertura de um inquérito para apurar o caso do arroz. Juscelino permanece no cargo 24 horas depois de ser indiciado pela PF por corrupção lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Após avalizar a sensata rigidez imposta a Geller, Lula se compadeceu de Juscelino. "O fato de o cara ter sido indiciado não significa que ele cometeu um erro". Num inquérito policial, todo mundo é inocente até prova em contrário. Num governo, a presunção de inocência deveria ser vista como uma garantia constitucional móvel.
Lula revelou-se precário ao nomear um ministro suspeito. Foi temerário ao manter um ministro investigado. Cada segundo de sobrevida concedido a um Juscelino já indiciado é ultrajante. O que dirá Lula nas fases da denúncia e da ação penal? Na Justiça, a inocência é presumida até o trânsito em julgado. Na administração pública, certas biografias recomendam a presunção da culpa.
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