Frágil, defesa de Bolsonaro tem uma consistência de gelatina
O criminalista Paulo Amador da Cunha Bueno, defensor de Bolsonaro escolheu uma inusitada linha de atuação. Decidiu escorar a defesa do seu cliente no seu principal antagonista. Impossibilitados de negar as evidências de que o capitão acompanhou minuciosamente o comércio das joias do acervo da Presidência, o doutor recordou em nota que Lula se apropriou, em 2005, de "um relógio da sofisticada marca Piaget", presenteado pelo então presidente da França Jacques Chirac.
Ecoando a pregação segundo a qual Bolsonaro sofre perseguição, o advogado insinuou que Alexandre de Moraes protege o atual presidente. Anotou que, instado a incluir Lula no processo que corre no Supremo, Moraes "determinou o pronto arquivamento da representação, em 6 de novembro de 2023, sem declinar as razões que tornariam aquela situação legítima e a de o Bolsonaro não."
O Tribunal de Contas da União autorizou Lula a reter o relógio Piaget. Entendeu que não se aplicava retroativamente a regra fixada em 2016, obrigando a incorporação de presentes valiosos ao patrimônio da União.
Em resposta às mais de 400 páginas do inquérito da Polícia Federal, a defesa de Bolsonaro divulgou oito parágrafos. O texto tem a consistência de uma porção de gelatina. Nega que o indiciado "pretendeu se locupletar". Mas se abstém de refutar o esquema montado para vender as joias nos Estados Unidos.
A certa altura, o advogado criticou o erro de cálculo cometido pela Polícia Federal ao estimar em R$ 25,2 milhões o valor das peças. Houve rápida correção. Mas o doutor não se animou a comentar a cifra correta, de R$ 6,8 milhões.
Levando-se às últimas consequências a tática de comparar Bolsonaro a Lula, a defesa pode inspirar na plateia a conclusão de que o destino final do capitão é mesmo a cadeia.
No domingo, foi ressuscitado em Santa Catarina, o bordão preferido do bolsonarismo. "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", entoaram os devotos do "mito", durante o evento conservador estrelado por Bolsonaro e Javier Milei.
O tríplex do Guarujá, que levou Lula à prisão antes da anulação da sentença da Lava Jato pelo Supremo Tribunal Federal, foi leiloado em maio de 2018 por R$ 2,2 milhões. Numa conta de padaria, que desconsidera a correção monetária, as joias que Bolsonaro tentou passar nos cobres pagariam três imóveis como o tríplex.
Quer dizer: pelos padrões do próprio bolsonarismo, não há no futuro próximo do capitão outro destino que não seja um lugar qualquer atrás das grades.
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