Graças a Lula, Bolsonaro faz um golaço no TCU sem tocar na bola
Lula tropeça no meio de campo. O deputado bolsonarista Sanderson lança uma representação na lateral direita do TCU. Escalado pelo capitão, o ministro Jorge Oliveira mata no peito. Dá um balão no relator Antonio Anastasia. Dribla Walton Rodrigues. Rola para a grande área um voto que livra Lula do constrangimento de devolver um relógio Cartier de R$ 60 mil que recebeu de presente há 19 anos, no seu primeiro reinado.
Oliveira faz tabelinha com todo o time bolsonarista do TCU. Passa para Vital do Rêgo. Vital passa para Aroldo Cedraz. Aroldo toca para Jonathan de Jesus, que deixa Augusto Nader na cara do gol. Atingida a maioria, este só tem o trabalho de tocar sob a trave e... gooool. Gol de Bolsonaro.
O TCU desdisse a si mesmo para que os advogados de Bolsonaro tenham o que dizer no inquérito das joias sauditas. Não há lei que obrigue Lula a devolver o Cartier que recebeu de presente em 2005, concluiu a maioria. Nessa versão, seria inválida a regra adotada em 2016. Estava entendido que presentes de alto valor pertenciam à União, não aos inquilinos do Planalto. Por isso, Bolsonaro foi obrigado a devolver R$ 6,8 milhões em joias.
A defesa do capitão alega no Supremo Tribunal Federal que as situações são análogas. Sustenta que Bolsonaro, indiciado pela Polícia Federal por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro, deveria receber tratamento idêntico ao de Lula.
O escândalo das joias arde no noticiário desde março de 2023. O Cartier surgiu como contraponto porque Lula ostentou o relógio no pulso sem se dar conta da conveniência ética, moral e política de devolver espontaneamente a peça. Quem comete um erro e não o corrige comete outro erro. Com a ajuda do arquirrival, Bolsonaro marcou um golaço no TCU sem tocar na bola.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.