Josias de Souza

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Opinião

Ordem de Dino sobre queimadas traz a faísca do constrangimento

O ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino ordenou que o governo mobilize em 15 dias "todo o contingente" necessário para combater as queimadas na Amazônia e no Pantanal. A determinação foi endereçada aos ministros José Múcio (Defesa), Ricardo Lewandowski (Justiça) e Marina Silva (Meio Ambiente).

O despacho de Dino produziu duas faíscas. Acendeu as fagulhas do constrangimento e da inquietude. Constrange porque a ordem foi dada no âmbito de ação movida ainda durante a gestão de Bolsonaro, marcada pelo negacionismo ambiental. Inquieta porque imaginou-se que a posse de Lula tornaria intervenções judiciais no meio ambiente desnecessárias.

No último final de semana, acossado pela onda de incêndios que ardem em propriedades rurais do interior de São Paulo, Lula reuniu seu gabinete de crise. Marina Silva realçou que as queimadas paulistas, intensificadas num intervalo de 48 horas, exalaram um aroma de crime.

Marina Silva comparou as queimadas de São Paulo ao "Dia do Fogo". A referência evoca o dia 10 de agosto de 2019, quando produtores rurais do interior do Pará, em ação coordenada pelo WhatsApp, atearam fogo em áreas da floresta Amazônica. Além da devastação, a principal marca do episódio é a impunidade.

Emparedado pelas labaredas, o governo federal determinou à Polícia Federal a abertura de dois novos inquéritos. Somando-se aos 29 inquéritos que apuram incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal, o número de investigações subiu para 31.

Fica evidente que, além da mobilização de pessoal determinada por Dino, a conjuntura intima o governo a levar à vitrine um lote de punições de piromaníacos. Do contrário, a política ambiental de Brasilia será consumida por um fenômeno que sobrevive à troca de governos: a lamentação depois do fato.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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