Em meio à divinização das pesquisas, somem ideias
Como em campanhas anteriores, os institutos de pesquisa ocuparam o centro do palco nas eleições municipais de 2024. Quando isso ocorre, as pesquisas norteiam os candidatos, orientam seus financiadores e desorientam o eleitor, submetendo-o ao risco de eleger a melhor encenação, não o melhor candidato.
Em São Paulo, a ânsia com que os comitês eleitorais aguardavam, desde a véspera, o resultado do penúltimo Datafolha dá uma noção do ponto a que chegou a divinização das pesquisas. Em meio à fumaça dos prognósticos, somem as ideias dos candidatos sobre os problemas da cidade.
Nesta sexta-feira, a propaganda do horário eleitoral no rádio e na televisão fará aniversário de uma semana. Com poucas exceções, os candidatos levaram ao ar padrinhos políticos, famílias de comercial de margarina, um blá-blá-blá dispersivo e caneladas dimensionadas pelas pesquisas.
Contra esse pano de fundo, um candidato sem tempo de televisão chega ao topo das pesquisas cavalgando memes e recortes para redes sociais. Quando tem a oportunidade de expor planos de governo em sabatinas jornalísticas, o fenômeno da temporada se refere a planos de governo como "sonhos".
Na administração pública, sonhos que não levam em conta o orçamento eternizam pesadelos dos quais o eleitor tem dificuldade de acordar. Pesquisas com a credibilidade das que são feitas pelo Datafolha têm enorme valor. Mas quando a politicagem inspirada pelas estatísticas se sobrepõe aos problemas e projetos, a campanha eleitoral vira um grande conto do vigário no qual o eleitor, tratado como idiota, corre o risco de cair.
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