Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

No 'ano da colheita', Autoridade Climática de Lula vira carrapicho

Lula proclamou na reunião ministerial de segunda-feira que "2025 será o ano da colheita". Mandou os ministros tirarem "todo carrapicho que tiver nas plantas que nós plantamos". Deveria considerar a hipótese de pegar, ele próprio, no cabo da enxada. Prometida na campanha de 2022 e esquecida desde o governo de transição, a Autoridade Climática chega a 2025, ano em que o Brasil sediará a COP30, como um dos mais vistosos carrapichos da lavoura do Planalto.

A Autoridade Climática deveria gerenciar o combate e, sobretudo, a prevenção aos desastres climáticos. Há quatro meses, em meio à fumaça das queimadas, Lula desengavetou a promessa. Nesta quarta-feira, o repórter Carlos Madeiro informou que as queimadas consumiram 30,9 milhões de hectares no Brasil no ano passado. Queimou-se uma área maior que a Itália. E nada da Autoridade Climática.

Na reunião com os ministros, Lula passou um sabão em Fernando Haddad. Ainda zonzo com a surra cibernética que levou no caso do Pix, disse que, doravante, "nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela Casa Civil". Marina Silva sabe aonde essa conversa pode dar. Em setembro do ano passado, enviou a Rui Costa, o chefão da Casa Civil, o projeto da Autoridade Climática.

A coisa funcionaria, segundo Marina, como uma autarquia vinculada à pasta do Meio Ambiente. E Rui: "Ou é autoridade ou é um departamento". O novo órgão não se limitaria à "gestão do desastre", disse Marina. Cuidaria da "gestão do risco". Se isso fosse suficiente, torpedeou Rui, "Europa e Estados Unidos já tinham resolvido. Bastava criar a Autoridade Climática e não tinha mais incêndio florestal no mundo".

Se, em vez de enfrentar colegas, o chefe da Casa Civil ameaçasse as pragas da lavoura, Lula não precisaria pedir à Esplanada para capinar o carrapicho, planta resistente, que rouba água e nutrientes da plantação. Lula ainda não pode celebrar a colheita. Mas em novembro, quando estiver presidindo a cúpula do clima da ONU, em Belém, poderá convidar os líderes mundiais para o coquetel comemorativo dos três anos da chegada da Autoridade Climática à sua retórica.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.