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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Mulher mais procurada pela polícia no Brasil guarda segredos do PCC

Imagem de câmera de segurança mostra Jussara em hotel de Fortaleza onde, segundo a polícia, ela se encontrou com o grupo que assassinou dois líderes do PCC no Ceará em 2018 - Divulgação/Polícia Civil do Ceará
Imagem de câmera de segurança mostra Jussara em hotel de Fortaleza onde, segundo a polícia, ela se encontrou com o grupo que assassinou dois líderes do PCC no Ceará em 2018 Imagem: Divulgação/Polícia Civil do Ceará

Colunista do UOL

31/03/2021 04h00

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Desde fevereiro de 2018, o nome de Maria Jussara da Conceição Ferreira Santos, 48, está incluído na difusão vermelha da Interpol, a Polícia Internacional. Ela é uma das mulheres mais procuradas do Brasil. Está na mira de policiais federais e policiais civis de São Paulo e do Ceará.

Jussara foi denunciada pelo Ministério Público cearense sob a acusação de envolvimento nas mortes de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, ambos da alta cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital).

O nome dela foi incluído no alerta vermelho da Interpol no final de fevereiro de 2018, logo após os assassinatos dos dois chefes da facção criminosa. Ambos foram mortos a tiros na aldeia indígena de Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza (CE).

Há três anos Jussara é procurada em todo o território nacional. As autoridades policiais acreditam que a prisão dela pode esclarecer a motivação do duplo assassinato; levar ao mandante do crime e ainda desvendar os homicídios de pessoas diretamente envolvidas nas mortes dos dois líderes do PCC.

O processo tem dez réus. Cinco estão presos e terão audiências judiciais no início de abril. O filho de Jussara, Jefte Ferreira Santos, 24, é um deles. O rapaz está detido no Ceará. A mãe dele e mais quatro acusados, todos com extensa ficha criminal em São Paulo, continuavam foragidos até a publicação desta reportagem.

Segundo o Ministério Público e Polícia Civil do Ceará, Jussara cuidou da logística e garantiu todo o suporte necessário para o grupo paulista planejar, coordenar e executar o duplo homicídio.

Na manhã de 13 de fevereiro de 2018, Jussara e Jefte embarcaram com destino a Fortaleza em um helicóptero. Havia cinco pessoas na aeronave. As outras três eram o piloto e um casal de amigos dele. Após o desembarque no município de Eusébio, mãe e filho seguiram para o Hotel Iracema Residence Flat, na capital cearense.

Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, acusado pela polícia de matar dois líderes do PCC, chega a hotel em Fortaleza onde estava Jussara - Divulgação/Polícia Civil do Ceará - Divulgação/Polícia Civil do Ceará
Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, acusado pela polícia de matar dois líderes do PCC, chega a hotel em Fortaleza onde estava Jussara
Imagem: Divulgação/Polícia Civil do Ceará

Eles fizeram o check-in às 15h49. Seis horas depois chegava ao hotel o grupo paulista, formado por Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, André Luís da Costa Lopes, o Andrezinho da Baixada, Erick Machado dos Santos, o Rick da Baixada, e Ronaldo Pereira Costa.

Câmeras de segurança registraram o momento em que Jussara recepcionou os quatro homens no Iracema Residence Flat. No dia seguinte, o circuito interno filmou a mulher, o filho e o restante do bando saindo do hotel às 14h26.

O piloto que levou mãe e filho para Fortaleza no helicóptero B4, prefixo PR-YHB, não foi denunciado pelo duplo homicídio. Já outro piloto, Felipe Ramos Morais, foi acusado de levar Gegê do Mangue e Paca para o voo da morte até a aldeia indígena de Aquiraz.

Na manhã de 15 de fevereiro, Morais, Cabelo Duro e os dois líderes do PCC embarcaram no mesmo helicóptero em um hangar na Praia do Futuro. Segundo a polícia, Cabelo Duro ordenou ao piloto que pousasse a aeronave na aldeia sobre o pretexto de pegar galões com combustíveis para abastecer o helicóptero.

Ele foi até um matagal próximo e se encontrou com o grupo paulista e outros dois homens do Ceará. Gegê e Paca desconfiaram da ação, mas não tiveram chance de reagir. Foram arrancados do B4 e mortos com tiros de pistola 9 mm.

Após o assassinato embarcaram no helicóptero Morais, Cabelo Duro, André, Erick e Ronaldo. Os quatro homens comemoraram a bordo as mortes dos dois chefes do PCC.

Morais foi preso dias depois e, segundo depoimento dele à polícia, Cabelo Duro comentou na aeronave que as mortes foram encomendadas por "Veio", não identificado pela polícia. E em seguida acrescentou: "A partir de agora tem início uma nova era no PCC. Haverá mudanças positivas na facção".

O piloto deixou o grupo paulista no aeroporto de Coroa do Avião, em Recife. Jussara e o filho fizeram o chekout, pagaram a conta de todos no hotel e voltaram de avião para São Paulo ainda no dia 15. Desembarcaram em Guarulhos. Os corpos de Gegê e Paca foram encontrados no dia seguinte.

Por ordem de Cabelo Duro, mãe e filho retornaram para Fortaleza no dia 18 de fevereiro com uma missão: Apurar se havia câmeras de segurança no hangar da Praia do Futuro, onde teve início o voo da morte. Jussara e Jefte ficaram só 13 horas na capital cearense e regressam de avião para São Paulo.

Cabelo Duro não teve tempo para ver "as mudanças positivas no PCC", Foi assassinado com tiros de fuzil, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, uma semana após ter comandado as mortes de Gegê e Paca.

Do grupo paulista, estão presos Jefte e Andrezinho. A esperança da polícia é capturar Jussara parar desvendar os segredos e mistérios que cercam os assassinatos de Gegê, Paca e Cabelo Duro e esclarecer que mudanças seriam essas no PCC.

Jussara era o braço direito de Cabelo Duro e, para a polícia, deve saber quem é o tal de "Véio" mencionado por ele. O UOL não encontrou o advogado dela.

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