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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Justiça leva 21 anos para absolver Marcola por roubo milionário no Ceará

21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola - Lucio Tavora/Xinhua/Folhapress
21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola Imagem: Lucio Tavora/Xinhua/Folhapress

Colunista do UOL

29/03/2021 04h00

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A Penitenciária do Estado, no Carandiru, zona norte de São Paulo, era o "endereço" de Marco Willians Herbas Camacho, 53, o Marcola, em 18 de fevereiro de 2000.

No mesmo dia, Silvio Carvalho Junqueira, 55 anos, estava recolhido na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, chamada de Piranhão, no Vale do Paraíba (SP).

Apesar de estarem presos à época, ambos foram acusados de participar da invasão e do roubo de R$ 1,4 milhão da Nordeste Segurança de Valores, em Caucaia, no Ceará, distante mais de 3 mil km de São Paulo.

Segundo a denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará, Marcola era o líder da quadrilha e, para entrar na empresa, ele ajudou a sequestrar familiares de um supervisor operacional e de um funcionário responsável pelo cofre da transportadora de valores.

A denúncia narra que Marcola e outros 19 homens levaram as pessoas sequestradas para um cativeiro. Parte do bando ficou vigiando as vítimas. O restante seguiu para a instituição financeira em quatro veículos. Segundo o MP cearense Marcola também estava nesse último grupo.

Os criminosos portavam fuzis, metralhadoras, pistolas e granadas. Os vigilantes viram os colegas em poder dos criminosos, sob mira das armas, e abriram o portão da Nordeste. A quadrilha ainda mostrou aos vigias fotos das demais vítimas no cativeiro e ameaçou matá-las, caso o cofre não fosse aberto.

Os ladrões recolheram vários malotes com o dinheiro e fugiram para Sobral, onde uma aeronave os esperava. Alguns assaltantes acusados de envolvimento no crime foram presos dias depois no Ceará. Virgulino, o piloto do avião, foi um deles.

De acordo com o Ministério Público, um preso confessou a participação no roubo e teria afirmado que Marcola era o chefe do bando. Com base nesse depoimento, ele foi denunciado pela promotoria. Naquela época, Marcola não era apontado como o líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital). Isso só aconteceu em 2002, após uma guerra interna na facção criminosa.

Em 16 de novembro de 2001, quando havia sido transferido para a Penitenciária da Papuda, em Brasília, Marcola foi interrogado por carta precatória. Ele alegou que não participou do roubo milionário porque estava preso em São Paulo e acrescentou que não conhecia os outros réus.

Em 25 de março de 2002, autoridades paulistas ligadas à Secretaria Estadual da Administração Penitenciária atestaram à Justiça do Ceará que Marcola estava preso em São Paulo no dia do roubo à Nordeste Valores.

A imprensa chegou a noticiar, no final do ano passado, que o Ministério Público do Ceará havia pedido à Justiça a condenação de Marcola porque o crime praticado por ele iria prescrever em novembro de 2021.

No início deste mês, depois de 21 anos do roubo, a Justiça do Ceará inocentou Marcola da acusação. O líder do PCC tem hoje uma condenação de 330 anos e cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília.

Para o preso Sílvio Carvalho Junqueira, o processo se arrastou por oito anos. Em 23 de outubro de 2008, a Justiça cearense considerou a denúncia contra o acusado improcedente ao constatar que ele realmente estava atrás das grades, em São Paulo, no dia do assalto à empresa de valores.