Dirigente de ONG ligada ao PCC movimentou R$ 12,5 mi em 4 anos, diz polícia
Geraldo Sales da Costa, vice-presidente da ONG Pacto Social e Carcerário, preso na última terça-feira (14) em uma operação contra o PCC (Primeiro Comando da Capital), movimentou, segundo a Polícia Civil, R$ 12,5 milhões em suas contas bancárias de janeiro de 2018 a junho de 2022.
A Operação Scream Fake (Falso Grito, em inglês), deflagrada pela Polícia Civil e pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo) cumpriu 12 mandados de prisões preventivas e 14 de buscas e apreensões. Luciane Neves Ferreira, 46, mulher de Geraldo e presidente da ONG, e três advogados, também foram presos.
Um relatório do LAB (Laboratório de Tecnologia de Lavagem de Dinheiro) da Polícia Civil de São Paulo mostra que foram creditados R$ 6.266.370,45 nas contas de Geraldo e debitados R$ 6.259.080,91, totalizando uma movimentação financeira de R$ 12.525.451,36 em quatro anos.
O documento aponta, em igual período, "a ausência total de qualquer movimentação financeira da ONG Pacto Social & Carcerário S.P. —Associação de Familiares e Amigos de Reclusos, cujo capital social não foi informado à Polícia Civil pelos analistas do LAB".
Investigadores afirmam que o PCC, por meio da ONG, montou um "plano de saúde" para prestar serviços de atendimentos médicos e odontológicos a integrantes da facção presos em São Paulo, principalmente aos presidiários da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
Segundo a Polícia Civil e o MP-SP, médicos e dentistas foram contratados por advogados e pagos com dinheiro ilícito da organização criminosa. Os serviços incluíam implantes dentários e até procedimentos estéticos, como clareamento dental e botox.
A ONG começou a ser investigada em 12 de setembro de 2021, quando Kethelen Camila Souza, 26, também alvo da Operação Scream Fake, foi visitar o marido preso na Penitenciária 2 de Venceslau e acabou flagrada com quatro cartões de memórias escondidos na barra da calça.
Falsas acusações
O material tinha citações sobre o tráfico de drogas e a algumas células do PCC, como a sintonia dos gravatas, como é chamado o braço jurídico da facção; o setor de saúde, com nomes de advogados e médicos e dentistas contratados para atender os presos; e também o setor de reivindicações.
Segundo o MP-SP, "a investigação comprovou que o PCC financia atendimento de saúde para alguns de seus integrantes, realizando o pagamento de tais serviços por meio de recursos obtidos ao seu caixa ilegal, alimentado através de atividades criminosas".
O setor de reivindicações —diz o MP— "vinha atuando por meio da ONG Pacto Social para divulgar falsas acusações de torturas e abusos por parte de agentes estatais, especialmente nos presídios, visando a desestabilização do sistema penitenciário estadual".
Por determinação do juiz Deyvison Heberth dos Reis, da 3ª Vara Criminal de Presidente Venceslau, a ONG Pacto Social teve as atividades suspensas. No entendimento do magistrado, "a ONG é um braço direito de atuação do Primeiro Comando da Capital".
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Geraldo Sales, Luciane Neves Ferreira e Kethelen Camila Souza. O espaço continua aberto para manifestações dos defensores de todos eles. O texto será atualizado se houver posicionamento.
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