'Câncer do PCC assola a sociedade e apresenta metástase na PM', diz oficial

No IPM (Inquérito Policial Militar) aberto em São Paulo que investiga o suposto envolvimento de PMs no vazamento de informações sigilosas para narcotraficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e na escolta de integrantes da grupo, a tenente Maria Carolina de Brito Silva compara a facção a um câncer.
"É necessário penetrar nas profundezas desse câncer chamado crime organizado, que assola nossa sociedade e já apresenta sua metástase na Polícia Militar", afirma a oficial no documento.
Segundo a tenente, "é preciso destruir seu espírito [do crime organizado] de forma profunda para que ele nunca mais retorne e para que sirva de exemplo para aqueles que ainda não entenderam o nobre papel e missão da Polícia Militar", escreveu Maria Carolina no inquérito.
Investigação aponta três núcleos de atuação; 1º executa crimes
A Corregedoria da PM afirma que existem três núcleos de policiais militares suspeitos de colaborar com o crime organizado.
O primeiro é o operacional, composto por PMs encarregados de atuar na execução de atividades criminosas, como homicídios em nome do PCC.
Três de seus integrantes estão recolhidos no Presídio Militar Romão Gomes. Eles são o cabo Dênis Antônio Martins, o tenente Fernando Genauro da Silva e o soldado Ruan Silva Rodrigues, acusados de assassinar Vinícius Gritzbach, 38, morto a tiros em 8 de novembro de 2024 no aeroporto internacional de Guarulhos.
As investigações da Corregedoria apontam que Dênis e Ruan foram os atiradores que executaram Gritzbach. Genauro é acusado de ser o motorista e ter dado fuga aos dois colegas de farda. Os três agiram a mando de integrantes do PCC, apontam as investigações.
2º grupo reúne militares da inteligência e da Rota e vaza informações; 3º faz escoltas
O segundo núcleo, segundo a Corregedoria da PM, é o de vazamentos. O grupo é formado por militares que atuaram na AI (Agência de Inteligência) e na seção de rádio da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e são suspeitos de passar informações de operações sigilosas a narcotraficantes do PCC.
Nesse grupo estariam os sargentos José Roberto Barbosa de Souza, o Barbosinha, que na Rota foi motorista do mesmo pelotão do oficial Guilherme Derrite (atual secretário estadual da Segurança Pública), e Alexandre Aleixo Romano Cezário.
Segundo a Corregedoria da PM, os principais favorecidos pelo esquema desse núcleo eram Anselmo Becheli Santa Fausta (o Cara Preta), Cláudio Marcos de Almeida (o Django) —ambos assassinados na guerra do PCC— e Sílvio Luís Ferreira (o Cebola), foragido da Justiça. Todos inimigos de Gritzbach.
Barbosinha e Romano, aponta o IPM, também fizeram bico (serviço fora da corporação) para dirigentes da empresa de ônibus Transwolff —investigada pelo MP-SP Ministério Público do Estado de São Paulo por ligação com o PCC.
O nome de Romano aparece em uma planilha de pagamento da Transwolff, apreendida pelo MP-SP, indicando que ele recebeu R$ 4.000,00 pelo bico. Ele serviu na Rota de 2004 a 2012 e Barbosa, de 2008 a 2018. Ambos atuaram na sala de rádio da Rota no mesmo período. Hoje estão na reserva.
No mesmo núcleo atuaria o cabo Vagner de Deus Leão, investigado por suspeita de ter vazado informações para os narcotraficantes do PCC. O inquérito diz que há indícios de que ele tenha montado dois bares na zona leste de São Paulo com o nome Rota's Bar, em homenagem à Rota.
Já o terceiro núcleo investigado pelo IPM é o da segurança, formado por militares que atuam na escolta pessoal de criminosos faccionados. A Corregedoria da PM deteve 14 homens da tropa que trabalhavam para Vinícius Gritzbach. Todos estão presos preventivamente no Romão Gomes.
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