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Kennedy Alencar

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Marca de 400 mil mortes por covid simboliza fracasso do governo Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro com caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro com caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada Imagem: ADRIANO MACHADO

Colunista do UOL

29/04/2021 15h43

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Sem a pandemia, o governo Bolsonaro já seria desastroso. A marca de 400 mil mortos por covid-19, alcançada nesta quinta-feira, é o símbolo da transformação do desastre numa catástrofe. No fundo, é a marca de mais um fracasso brasileiro.

O governo não tem projeto econômico para o país crescer e combater a desigualdade social. A incompetência é a regra do ministério, com destaque para Paulo Guedes (Economia). A atual administração prega abertamente a selvageria com propostas de armar a população, bem ao gosto de milicianos homenageados pela família presidencial. Trata-se de um governo que agride minorias cotidianamente e destrói o meio ambiente enquanto protege criminosos.

A lista de retrocessos é longa. A pandemia só agrava a tragédia brasileira. Literalmente, Bolsonaro oferta a paz dos cemitérios aos cidadãos. O país não merecia ter o pior presidente da sua história justamente numa hora de crise sanitária global. Os danos levarão anos para serem sanados.

Além das mortes que poderiam ter sido impedidas, parte da população que adoeceu por obra de um governo irresponsável sofrerá com sequelas, o que gerará mais pressão sobre o SUS (Sistema Único de Saúde).

O presidente Jair Bolsonaro sempre minimizou os impactos da pandemia. Desde o começo, ele implementou uma estratégia de imunidade de rebanho que é negligentemente homicida. Atingimos 400 mil mortes porque Bolsonaro decidiu pagar o preço de deixar o coronavírus correr solto. Foi intencional, não decisão por pura incompetência, apesar disso ter contribuído para colocar em prática a resposta presidencial à pandemia.

Em 23 de março do ano passado, o empresário bolsonarista Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, sintetizou essa estratégia numa postagem na internet, dando combustível ao falso dilema entre combater a pandemia ou salvar a economia. Os países que enfrentaram o coronavírus com mais responsabilidade tiveram melhor recuperação econômica. Mas Durski criticava um lockdown que nunca seria aplicado no país:

"O Brasil não pode parar dessa maneira. O Brasil não aguenta. Tem que ter trabalho, as pessoas têm que produzir, têm que trabalhar. O Brasil não tem que essa condição de ficar parado assim. As consequências que teremos economicamente no futuro vão ser muito maiores do que as pessoas que vão morrer agora com o coronavírus. (...) "Não podemos [parar] por conta de 5 ou 7 mil pessoas que vão morrer, eu sei que é muito grave, sei que isso é um problema, mas muito mais grave é o que já acontece no Brasil".

No fim de abril de 2021, enquanto se discute se o genocida é genocida, Bolsonaro continua a dinamitar todas as medidas de combate ao coronavírus.

O presidente, que falou mal da máscara inúmeras vezes, estimula aglomerações sem proteger o rosto. Ele, que desprezou a vacina ao lançar dúvidas sobre sua eficácia e desestimular as pessoas a se imunizar, diz que não vai tomar nada agora. Só quando todo mundo se vacinar. Bolsonaro, que receitou medicamentos que podem fazer mal à saúde sem eficiência contra o coronavírus, disse nesta quarta-feira que tomaria cloroquina novamente.

O presidente mantém sua estratégia de boicote a todas as medidas de combate à pandemia na hora em que o Brasil atinge 400 mil mortes e caminha celeremente para chegar a meio milhão. Ele não vai mudar, apesar de, dia sim, dia não, ter gente propagandeando uma mudança de tom.

Como o Congresso e a Procuradoria Geral da República se omitem e se tornam cúmplices de uma catástrofe sanitária que transformou o Brasil num covidário, a tragédia tende a se prolongar. Os brasileiros terão de esperar outubro do ano que vem para tomar a medida mais eficaz contra a pandemia: no voto, desalojar Bolsonaro da Presidência.