Após protesto dispersado por bombas, MTST faz nova marcha por moradia em SP
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realiza, na tarde desta quinta (13), nova marcha no bairro do Morumbi, em São Paulo, em direção ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Cerca de 3 mil pessoas, segundo os organizadores, protestam contra os despejos que vêm sendo realizados durante a pandemia e por recursos para a construção de novas moradias populares. Há duas semanas, a primeira marcha com a mesma pauta terminou com a Polícia Militar utilizando bombas de gás lacrimogênio para impedir que a multidão chegasse ao palácio.
A manifestação ocorre após dois encontros de lideranças do movimento com a Secretaria Estadual de Habitação e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) não chegarem a um acordo.
"A única resposta que o governo deu há mais de 5 mil sem-teto há dez dias na porta do palácio foi bomba. Chamaram uma outra reunião, dizendo que apresentariam uma solução e nada", afirmou à coluna Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST.
"Aliás, nesse meio tempo, ocorreu uma nova reintegração de posse, em Piracicaba, e existem outras agendadas. Nada de suspender despejos no meio da pandemia. Só um discurso demagógico", diz ele. De acordo com o movimento, os participantes do ato desta quinta foram orientados a usar máscara e adotar distanciamento por conta da pandemia.
Em declaração enviada à imprensa, o secretário estadual de Habitação, Flávio Amary afirmou que "a direção do MTST ignorou nossa proposta e minha permanente disposição em dialogar para atender aos objetivos políticos de sua liderança em um época pré-eleitoral". Segundo ele, o movimento "resolveu convocar mais uma concentração na capital paulista, o que contraria as recomendações médicas e contribui para a disseminação do vírus entre os manifestantes e seus familiares".
Em uma clara referência a Boulos, pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, afirmou: "Não podemos admitir é que algumas lideranças que tenham antes de tudo propósitos políticos distorçam os reais objetivos da organização popular e manipulem os seguimentos mais carentes da população que precisam de moradia".
Troca de acusações sobre a política de habitação durante a pandemia
Guilherme Boulos reclama que o orçamento da área de habitação está 100% contingenciado e, com isso, não é possível iniciar novos projetos habitacionais."Vivemos um momento crítico em que as pessoas estão perdendo empregos e não estão conseguindo pagar aluguel. Ou seja, a política habitacional também faz parte da política de combate aos efeitos da pandemia." O líder do MTST diz que o governo está descumprindo promessas feitas ao sem-teto.
O secretário estadual de Habitação, que participou das duas reuniões com o MTST, havia dito à coluna que o governo João Doria (PSDB) garante que moradores não serão retirados dos imóveis sob sua responsabilidade, o que incluem residências financiadas pela CDHU. E que, nas reuniões, o foco do MTST não foram os despejos, mas os recursos para a política de moradia.
De acordo com o secretário, o governo se propôs a fazer um aporte de até R$ 40 mil reais por unidade habitacional dentro do programa "Nossa Casa Entidade", no qual oferecem subsídio complementar ao do governo federal. Segundo ele, isso não foi aceito pelo MTST. "Espero que reconsiderem. Ainda mais no momento difícil em que a gente vive hoje, de pandemia, com orçamento concentrado na área da saúde."
Boulos discorda e diz que essa proposta não para em pé por que depende, entre outras coisas, de um aporte do governo federal - que não está liberando recursos.
"Nosso receio é que, novamente, o governo responda com bombas as pessoas que pedem para não serem despejadas durante a pandemia. Isso é coerente com o que temos visto com a política de segurança pública em São Paulo, com assassinatos nas periferias. É um escândalo a postura do governo Doria", afirma Boulos.