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Leonardo Sakamoto

Bolsonaro diz que "ganhou", apesar de 13,5 mi sem emprego e 162 mil mortos

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Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

10/11/2020 11h05

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Após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) suspender os testes clínicos com a Coronavac, vacina contra o coronavírus, o presidente da República afirmou, no Facebook, nesta terça (10) que esta é "mais uma que Jair Bolsonaro ganha".

Ele se referia à disputa que trava com o governador João Doria (PSDB), que fechou contrato com a empresa chinesa que desenvolveu o medicamento.

A justificativa da suspensão seria um "evento adverso grave". Segundo Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, que deve produzir a vacina em São Paulo, foi o óbito de um homem, mas por causas que não têm relação com a vacina.

A causa real da suspensão, ao que tudo indica, pode ser política. Ou melhor, eleitoral. Para 2020, para 2022.

"Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", foi a postagem do presidente. Ou ele fala sobre si mesmo em terceira pessoa, o que psicanaliticamente explica muita coisa, ou tem novamente alguém digitando por ele.

Diz muito sobre o caráter do presidente o fato de ele não ter lamentado o ocorrido na postagem, apenas se dedicado a usar uma tragédia em sua guerra política.

É mais uma que Bolsonaro ganha. E o que mais ele ganhou desde o início da pandemia? Muita coisa.

Primeiro, um aumento no contingente de desempregados para 13,5 milhões sem emprego, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Covid do IBGE, o que representa um desemprego de 14%. Em agosto, eram 12,9 milhões. A economia vai se recuperar mais rápido que os empregos.

Tivemos sete meses de quarentenas porque Bolsonaro agiu para que as pessoas fossem às ruas quando elas deviam ficar em casa. Apesar de bradar que estava lutando para evitar desemprego, fazia exatamente o contrário. Poderíamos ter tido um fechamento curto e depois reabertura se o presidente não pensasse como se tudo girasse em torno de sua reeleição.

Bolsonaro também ganhou mais de 162 mil mortos por covid-19, muitos dos quais poderiam ter sido evitados se o líder da nação não tivesse adotado um comportamento negacionista quanto à doença.

Sim, ele tirou o corpo fora e jogou a responsabilidade em governadores e prefeitos usando a mentira de que o Supremo Tribunal Federal disse que ele deveria ficar de fora do combate à pandemia.

E ganhou uma alta nos preços dos produtos básicos da alimentação dos brasileiros. A redução no auxílio emergencial pelo governo federal de R$ 600 para R$ 300 dificultou a compra de comida. O valor, que já era insuficiente para garantir a alimentação de uma família em muitas cidades, compra ainda menos com a inflação galopante que afeta especialmente os pobres.

No dia 25 de outubro, abordado por um cidadão que reclamou do preço do arroz, um dos itens que mais subiu, Bolsonaro disse que não poderia tabelar preço e cravou: "vai comprar lá na Venezuela".

Governadores e prefeitos tiveram suas falhas e erros na condução da pandemia. Mas nada se compara ao que fez Jair Bolsonaro, que chegou a criar um novo bordão na pandemia para justificar que nada poderia fazer: "a gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo".

Cada uma dessas vitórias de Bolsonaro representa uma derrota da população. Ao final, será uma goleada. Um 7 a 1 que provocamos a nós mesmos. Pois não é o destino de todo mundo, não. Elegemos esse destino.