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Leonardo Sakamoto

À véspera da eleição, máquina de guerra bolsonarista faz test drive de 2022

EVARISTO SA / AFP
Imagem: EVARISTO SA / AFP

Colunista do UOL

14/11/2020 11h13

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A máquina de guerra bolsonarista nas redes sociais e aplicativos de mensagens está funcionando a todo o vapor em municípios onde a esquerda tem chances eleitorais, como São Paulo e Porto Alegre. O objetivo nesses locais não é promover os candidatos ungidos por Jair Bolsonaro, mas destruir a reputação dos concorrentes.

Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela d'Ávila (PC do B) têm sido alvo de campanhas muito bem organizadas de divulgação de fake news e outros tipos de desinformação, sem contar os ataques diretos da família do presidente.

A questão não é a crítica em si, mesmo dura ou injusta, que faz parte da democracia, mas a atuação orquestrada com a finalidade de destruir adversários através da desinformação, repetindo uma prática frequente na eleição presidencial de 2018.

"É muito mais fácil manchar reputações do que construi-las. Você não precisa provar nada, basta inserir a dúvida em pessoas que não conhecem bem o candidato", afirma o coordenador de redes de uma campanha do centro no espectro político que conversou com a coluna.

Segundo ele, como esses postulantes à esquerda contam com uma taxa expressiva de votos consolidados, o objetivo da ação não tem sido "derreter" o candidato, apesar do que promovem hashtags nas redes, mas evitar o crescimento em cima dos indecisos e de votos que migraram de outros na reta final.

Ou seja, mais do que evitar que Celso Russomanno (Republicanos) pare de cair nas pesquisas, é atuar para que esse voto não vá, em hipótese nenhuma, para a esquerda.

Em Porto Alegre, com a renúncia de José Fortunati (PTB) à candidatura, a ação tenta impedir uma migração significativa de votos para Manuela, lembrando que o ex-prefeito já foi do PT, PDT e PSB, tendo parte do eleitorado à esquerda.

O caso da falsa denúncia das produtoras fantasmas que não são fantasmas, disparada por um militante bolsonarista e bombada pela máquina de extrema direita nas redes sociais contra Boulos, é um dos exemplos, mas não o único. Da imputação de falsos crimes até a invenção de conexão dos candidatos com rituais satânicos, ataques diferentes são pensados para segmentos diferentes do público e orientam a atuação de apoiadores individuais. Contra Manuela há o diferencial da violência de gênero.

Discute-se o quanto uma campanha municipal pode sofrer influência do presidente da República. A popularidade de Bolsonaro, que anda em baixa em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, entre outras grandes cidades do Sul e Sudeste, não resultou ganhos de votos para seus aliados.

Pelo contrário, desconfia-se o quanto o encontro de sua rejeição pessoal com a rejeição do presidente (50% de ruim e péssimo, 23% de ótimo e bom), segundo o Datafolha, piorou a vida de Russomanno.

Porém, se o bolsonarismo tem sido tímido para conquistar votos nesta eleição, ele é escancarado no sentido de tentar tirá-los.

Em um momento em que o país ainda vive uma pandemia assassina que já matou mais de 165 mil pessoas e conta com 13,5 milhões de desempregados, essas redes tiram o debate da melhoria da qualidade de vida e o empurram para a disputa de valores. Movem o foco para a questão comportamental.

Se uma parte significativa do povo é conservadora em costumes, ela defende, contudo, uma presença maciça do Estado em suas vidas e responde a isso eleitoralmente. O que é o aumento da popularidade de Bolsonaro se não o pagamento do auxílio emergencial criado graças à ação do Congresso Nacional?

O discurso da antipolítica mostrou nas últimas semanas que segue vivo nas redes e no zap. Fazendo seu test drive para 2022.