Leonardo Sakamoto

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Opinião

Execução descarada em aeroporto mostra que Brasil caminha para narcoestado 

A execução de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, no terminal 2 do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, uma área de segurança, à luz do dia, mostra que estamos caminhando a passos largos para nos tornarmos um narcoestado.

Gritzbach era réu por lavar dinheiro do tráfico de drogas para o Primeiro Comando da Capital através da compra de imóveis, postos de gasolina e criptomoedas. Para reduzir sua pena, ele havia fechado um acordo de delação premiada, entregando esquemas de lavagem da facção, mutretas com agenciamento de jogadores de futebol e até corrupção de policiais e delegados.

Segundo o Ministério Público, ele teria sido o mandante do assassinato de Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, para encobrir um golpe de milhões que deu no próprio PCC. Ou seja, a questão não é quem queria matar Gritzbach no submundo do crime, mas quem não queria matar.

É preciso sublinhar o que aconteceu: o maior aeroporto do país e um dos maiores do mundo, principal porta de entrada para visitando ao país, que recebeu 41,3 milhões de passageiros em 2023, foi palco de, ao que tudo indica, uma operação de vingança ou de queima de arquivo que não se importou com a multidão que lá estava.

Como isso, houve outros três feridos. O motorista de aplicativos Celso de Morais foi baleado nas costas e levado à UTI, Willian Santos, funcionário de uma terceirizada do aeroporto, foi atingido na mão e no ombro e Samara de Oliveira ficou ferida superficialmente no abdômen.

A imagem que isso reforça ao Brasil e ao mundo é de criminosos sentem-se à vontade de fazer o que querem na hora que desejam, com a certeza da impunidade.

Moradores das periferias podem retrucar que isso acontece com eles diariamente, com as mortes causadas pelo tráfico de drogas, por milícias ou por policiais — e terão toda a razão. Mas o fato de uma execução ocorrer em um local que, teoricamente, é um dos mais seguros do país, monitorado pelas Polícias Federal e Militar, mostra mais do que ousadia e audácia. Aponta a certeza de eles veem o país como território deles.

O que faz sentido. Como aqui já disse, não acredite em quem diz que facções criminosas estão tentando tornar-se parte integrante da vida brasileira. Elas já estão, há tempos, na lavagem de dinheiro através de companhias de ônibus, nos acordos de máfias de perueiros, em licitações fraudulentas que sangram os cofres públicos, em parcerias entre guardas e policiais e o crime, na contenção violenta a movimentos sociais, na grana derramada para eleger ou reeleger parças.

E enquanto isso, crianças, como Ryan, de apenas 4 anos, morrem em em uma comunidade pobre de Santos (SP), durante uma operação policial, após seu pai, uma pessoa com deficiência física que usava muletas, também ter sido morto em outra operação policial há nove meses, mostrando o fracasso das políticas de alta letalidade policial de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

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Vamos sendo controlados aos poucos pelo PCC. O tempo para evitar que nos tornemos um narcoestado está acabando. Ainda não está tudo dominado, mas a gente chega lá.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL