Covas, 47%, Boulos, 35%: Mas quantos não irão votar com a 2ª onda de covid?
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Bruno Covas (PSDB) registrou 47% das intenções de votos enquanto Guilherme Boulos (PSOL) marcou 35%, na primeira pesquisa Ibope realizada após o primeiro turno das eleições em São Paulo, divulgada nesta quarta (18). Considerando os votos válidos (descontados brancos e nulos), os valores são 58% a 42%. A margem de erro é de três pontos.
A última simulação do Ibope sobre o segundo turno, publicada no sábado (14), antes da eleição, portanto, trazia Covas com 53% dos votos totais e Boulos, com 26%.
No primeiro turno, Covas teve 32,8% dos votos válidos, enquanto Boulos contou com 20,2%. Considerando os votos totais, foram 27,6% e 17%, respectivamente - ou seja, o tucano ganhou 19,4% e o psolista, 18%, comparando as urnas com esta pesquisa.
E uma dúvida paira na capital paulista: o aumento de casos de covid-19 pode distanciar os números apresentados pelas pesquisas daqueles que sairão das urnas, no dia 29 de novembro, por conta da abstenção?
No sábado (14), o Ibope previa que Bruno Covas teria 38% dos votos válidos e o Datafolha, 37%. E que Boulos ficaria com 16% e 17%, respectivamente. Quando as urnas se abriram, o primeiro teve menos votos do que o previsto no dia anterior e o segundo, mais votos. A abstenção, no primeiro turno da eleição deste ano, foi de 29,3%, em São Paulo, frente a 21,84%, em 2016.
Boulos aposta em "onda favorável", enquanto Covas segue na dianteira
Guilherme Boulos afirmou, em entrevista ao UOL, que ocorreu uma onda de votos a seu favor na reta final, tanto na região central quanto nas periferias, e destacou a força da militância do público jovem. Apesar de Covas ter vencido em todos os distritos, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ficou em segundo em praticamente toda a cidade. Já Bruno Covas, também ao UOL, disse que era necessário aguardar as análises da votação para entender qual a influência da abstenção no resultado.
A campanha de Boulos comemorou os números do Ibope. "Os 12% de diferença significam que precisamos trazer 6% de Covas", afirmou um dos seus assessores. A tarefa não é fácil, mas ele acredita que há um embalo por ter ido ao segundo turno com uma votação acima da margem de erro das pesquisas e a campanha ser considerada a "grande novidade" da eleição.
E enquanto os eleitores vão migrando naturalmente para as candidaturas, os apoios ainda estão decantando nas campanhas. A de Covas recebeu o apoio de Celso Russomanno e do seu partido, o Republicanos. E, ao que tudo indica, ficou com os votos de eleitores de Arthur do Val (Patriota) e parte dos eleitores de Márcio França (PSB) - apesar do deputado estadual e o ex-governador ainda não terem declarado voto a ninguém.
Enquanto isso, Boulos terá o apoio de Jilmar Tatto e do PT, de Orlando Silva (PC do B), de Marina Helou (Rede) e de Ciro Gomes - aguarda-se a declaração de voto do seu partido, o PDT, até sexta. Tenta trazer França.
A quantidade de indecisos e de eleitores que não quiseram opinar nesta pesquisa Ibope foi de 4%, mas 20% dos consultados disseram que ainda podem mudar de voto. O pessoal que não quer nenhum dos dois (brancos e nulos) soma 14%.
Uma segunda onda de covid mudará o resultado das urnas?
Os números retratam a intenção de voto dos paulistanos neste momento. Mas há um outro elemento que pode vir a influenciar tanto quanto ou ainda mais que apoios de políticos no dia 29 de novembro: o aumento de casos de covid que lambe os pés da capital paulista e vem sendo considerado por alguns infectologistas como o início de uma segunda onda.
Considerando que ela começa a dar as caras novamente nas UTIs dos hospitais privados da capital, a dúvida é se ela causará uma abstenção significativa daqueles que terão receio de votar para não se contaminar.
No primeiro turno, uma hipótese é de que a abstenção mais alta pode ter sido causada por eleitores mais velhos (grupo de risco da covid) e menos engajados politicamente, abrindo caminho para o crescimento da proporção de jovens e eleitores mais engajados.
Dependendo da situação no dia da eleição, a campanha de Bruno Covas, que pode ter sido prejudicada por conta disso no primeiro turno, terá que convencer pessoas a saírem de casa.
A distância do prefeito para o coordenador do MTST ainda é confortável e isso pode não influenciar. Mas, até lá, vai ficar a dúvida se as pesquisas estão, na verdade, mostrando uma realidade de normalidade sanitária que não voltará a existir por um bom tempo. Realidade que não será, necessariamente, aquela que surgirá das urnas.
Além do mais, se os casos escalarem até o dia 29, o governador João Doria, padrinho de Covas, decretará um endurecimento das quarentenas sob o risco de atrapalhar a reeleição ou vai segurá-lo para depois, com risco de impactar a saúde pública? Ele se diz guiado pela ciência. Este é um bom teste.