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Leonardo Sakamoto

Pauta das armas ajuda Bolsonaro a esconder confusão da vacina, diz oposição

Homem trabalha em meio às sepulturas do Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - EDMAR BARROS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Homem trabalha em meio às sepulturas do Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus Imagem: EDMAR BARROS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

10/12/2020 03h10

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Enquanto o governo federal vê crescer casos e mortes por covid e não consegue apresentar um plano convincente para vacinação dos brasileiros, Jair Bolsonaro (sem partido) lançou uma exposição com as roupas que ele e sua esposa usaram em sua posse, em 2019, e zerou a alíquota do imposto de importação de revólveres e pistolas - que era de 20%.

As medidas devolveram o presidente aos assuntos mais falados nas redes sociais, com mensagens negativas e positivas. Líderes da oposição no Congresso Nacional afirmaram à coluna que veem esses atos como cortina de fumaça para a incompetência diante da crise sanitária ou como forma de reforçar o vínculo com seus seguidores mais radicais.

"Ninguém chega à Presidência da República sendo burro. Não concordo com o que ele pensa, mas ele sabe fazer o jogo", afirma o deputado federal Ênio Verri (PT-PR), líder do partido na Câmara.

"Já usou a Damares Alves, outras vezes o Ernesto Araújo, depois o Ricardo Salles para jogar a cortina de fumaça quando precisava", avalia. "Agora, vem com a inauguração de seu guarda-roupa, que é uma coisa ridícula, inimaginável."

Para Verri, isso atinge a parcela que o apoia e desvia o debate sobre a vacina da covid. Em sua opinião, Bolsonaro vem perdendo a batalha para o governador de São Paulo, João Doria - que anunciou que iniciará a imunização antes do governo federal.

Com pauta de armas, Bolsonaro quer jogar no seu território

"Nós estamos, mais uma vez, diante do modus operandi de Jair Bolsonaro, que busca sempre um movimento de dissuasão, uma cortina de fumaça para esconder sua incompetência e o caos." A avaliação é do líder da oposição no Senado Federal, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

"O governo fracassou contra a covid e não tem uma política de imunização. O país vive uma segunda onda da pandemia e voltamos a ter inflação alta, principalmente nos alimentos, como não havia desde o advento do Plano Real. O que ele faz diante disso? Cortina de fumaça. Retoma a agenda dele, com a pauta das armas, monta uma exposição", afirma.

Para o senador, Bolsonaro usa a pauta da redução dos impostos de revólveres, neste momento, para fazer com que a opinião pública seja obrigada a jogar no seu território.

"Temos que nos atentar a isso e insistir no que é a agenda do povo, que é a vacina, a saúde das pessoas, a recuperação econômica, a geração de empregos, o preço dos alimentos. E não cair na provocação dele."

Atos fazem parte de "projeto obscurantista" do presidente

Nem todos concordam que essas ações representam uma forma de desviar a atenção.

"Bolsonaro estava um pouco recuado, esperando a recomposição de forças a partir das eleições municipais. Agora, voltou com tudo, quer seja nos ataques às portarias de saúde mental [o governo deve revogar portarias que estruturam a política de saúde mental, incluindo o fim de programas de reinserção social de pacientes], mas também na costura de nomes para as presidências do Congresso", avalia Sâmia Bomfim (PSOL-SP), líder da bancada de seu partido na Câmara.

Ela não acredita que os gestos sejam cortina de fumaça, mas parte de um projeto obscurantista e que banaliza o mal. "Temos um contexto de guerra contra um vírus, as pessoas estão desesperadas atrás da vacina. É um projeto de descaso com a vida", diz.

A deputada concorda com seus colegas que o uso desses elementos é importante para a coesão de sua base. "O fascismo precisa de elementos de mobilização permanente para sobreviver e avançar", analisa Sâmia. "Agora, cabe a nós avançarmos, irmos para cima no tema da vacina."

A oposição tem defendido que o Congresso Nacional aprove um projeto para que o governo garanta imunização de toda a população antes dos prazos divulgados pelo ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, utilizando todas as vacinas eficazes. E critica a transformação de uma questão de saúde coletiva em um palco de antecipação das eleições de 2022.