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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Auxílio emergencial de R$ 200 compraria só 32% da cesta básica em São Paulo

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

07/02/2021 11h33

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Por conta da pressão do Congresso Nacional e da sociedade, o governo Jair Bolsonaro estuda a volta do auxílio emergencial em meio à segunda onda da pandemia, mas com valor reduzido a R$ 200. Isso representa 32% do necessário para adquirir a cesta básica em São Paulo, de acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que faz o levantamento mensalmente.

A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos é realizada em 17 capitais. Dentre elas, São Paulo apresenta o maior valor, R$ 631,46, enquanto Aracaju, o menor: R$ 453,16.

Há pacotes de produtos chamados de "cestas básicas" à venda na internet e em supermercados com valores mais baixos que esses. Mas eles não incluem alimentos frescos, como carnes, verduras e frutas, por exemplo, e não garantem alimentação nutricionalmente balanceada e suficiente para um trabalhador adulto sobreviver.

De acordo com o Dieese, a cesta básica na capital paulista subiu 24,67% em 2020. Na média, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, fechou o ano em 4,52%.

Nesse período, a inflação para os brasileiros de renda muito baixa (menos de R$ 1650,50 por domicílio por mês) foi maior do que a inflação dos que têm renda alta (mais de R$ 16.509,66) em 2020. Em números, 6,22% frente a 2,74%. O cálculo é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Alimentos da cesta básica do Dieese que se destacaram pelo aumento de preço ao longo de 2020 foram carne bovina de primeira, leite, manteiga, arroz agulhinha, óleo de soja, batata, açúcar refinado, farinha de trigo, pão francês, tomate, café em pó e feijão carioquinha.

Auxílio emergencial apenas para quem recebe Bolsa Família

O Ministério da Economia estuda retomar o auxílio emergencial de R$ 200 apenas para quem recebe o Bolsa Família e para os que estão na fila aguardando recebê-lo. Este é mais um dos balões de ensaio liberados pelo governo para testar a reação do mercado e da sociedade. Não foi o primeiro, nem será o último.

Neste, reside uma "pegadinha", pois o valor médio mensal do benefício já era de R$ 190. Ou seja, o governo Bolsonaro estuda, na prática, trocar o Bolsa Família pelo Auxílio Emergencial por alguns meses, pagando um pouquinho a mais, e incluindo quem está na fila de espera.

O novo auxílio teria valor R$ 10 maior que a média já paga pelo Bolsa. Em São Paulo, isso não dá para comprar um quilo de arroz agulhinha junto com um quilo de feijão carioquinha.

Caso essa proposta seja aplicada, o governo verificaria quanto a família ganha por mês no Bolsa Família. Se for mais de R$ 200, fica com o valor que já recebe - ou seja, o auxílio seria zero. Se for menos, passaria a ter o complemento até esse valor.

Em janeiro, 14.232.705 famílias receberam o Bolsa. O Ministério da Cidadania não divulga o tamanho da fila, mas um levantamento da FGV baseado em dados do IBGE aponta que, pelo menos, mais 3,7 milhões de famílias teriam direito ao benefício. Outro levantamento do jornal Folha de S.Paulo apontou que há 1,4 milhão de pessoas com cadastro aprovado pelo Ministério da Cidadania, aguardando.

O pagamento do auxílio emergencial derrubou a pobreza extrema de 11% da população, em 2019, para 4,5% em agosto do ano passado, segundo cálculos da FGV Social. Com o fim das parcelas, saltou para 12,8% em janeiro deste ano. São quase 27 milhões de pessoas na miséria.