Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com pedido de golpe, procissão bolsonarista usa R$ 1,2 mi de grana pública
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A multa de R$ 552,71 que, acertadamente, o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo deu a Jair Bolsonaro, neste sábado (12), por ignorar o uso de máscara, foi um ato civilizatório. Tanto João Doria quanto Flávio Dino, governador do Maranhão, que já havia multado o presidente por causar aglomeração, estão certos ao lembrar que ele não vale mais que nenhum outro cidadão.
Mas o arrecadado com a infração não faz nem cócegas considerando os R$ 1,2 milhão que os contribuintes do estado tiveram que desembolsar para garantir policiamento extra para que o presidente da República pudesse fazer seu passeio de moto com milhares de apoiadores. O número é da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
É desconcertante saber que uma montanha de dinheiro público foi usada para financiar uma manifestação que deu espaço a ataques à democracia e à vida.
No encerramento do passeio, já no Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera, grupos de manifestantes pediram às Forças Armadas intervenção militar, vulgo, um autogolpe, para perpetuar Bolsonaro no poder, além de atacarem o Supremo Tribunal Federal.
E, em seu discurso, o presidente sugeriu a dispensa do uso de máscaras, criticou o isolamento social e defendeu o uso da cloroquina - pacote que tem contribuído para o aumento no número de mortes por covid-19 e retarda a geração de empregos.
A Secretaria de Segurança Pública estimou em cerca de 12 mil motos na motociata, incluindo membros de motoclubes e grupos evangélicos. O número não é desprezível e gerou imagens para serem usadas nas redes bolsonaristas. O passeio também teve a participação de quase 1,5 mil policiais.
Mas vale lembrar que, segundo o Sindimoto, que reúne motoboys de São Paulo, há 305 mil profissionais autônomos atuando na capital. Com a pandemia, artificialmente estendida pela sabotagem de Bolsonaro, muitos estavam trabalhando no momento do ato para sobreviver. Ou descansando depois de uma semana em que entregaram muito e ganharam pouco.
O sindicato disse que não participaria da mobilização, que foi batizada de "Acelera para Cristo com Bolsonaro", afirmando que "a categoria sofre constantemente com diversos problemas causados por um governo que não pensa no trabalhador". Cita o alto preço da cesta básica e dos combustíveis e a inexistência do combate à precarização do serviço de entregas pela gestão Bolsonaro. Reclamam que foram esquecidos.
Mas o presidente lembra que existem quando lhe convém.