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Prevent tentou economizar seu patrimônio gastando a vida de Tadeu no lugar
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O depoimento de Tadeu de Andrade, nesta quinta (7), reforçou que hospitais da Prevent Senior adotaram um protocolo de enfrentamento da pandemia visando não à saúde de seus pacientes, mas à sua própria saúde financeira.
Como havia sido adiantado por Bruna Morato, advogada que representa 12 médicos que trabalhavam para a empresa, Tadeu confirmou que após um pacote de semanas na UTI, tentaram removê-lo para os cuidados paliativos à espera da morte. Queriam economizar o patrimônio da Prevent gastando sua vida no lugar.
Emocionado, ele disse à comissão que se a família não tivesse batido o pé e ameaçado chamar a imprensa, provavelmente não estaria vivo. Em seu prontuário, foi registrado que sua filha deu autorização à mudança - o que, segundo ele, é mentira.
"Esse período de UTI durou praticamente, mais ou menos, uns 30 dias, quando uma das minhas filhas recebe um telefonema da doutora Daniella de Aguiar Moreira da Silva, comunicando que eu passaria a ter os cuidados paliativos. Ou seja, sairia da UTI, iria para um chamado leito híbrido e lá teria, segundo as palavras da doutora Daniella, maior dignidade e conforto, e meu óbito ocorreria em poucos dias", afirmou aos senadores.
Para não ficar mexido com as declarações de Tadeu uma pessoa precisa ter esquecido, há muito, sua humanidade. Foi uma das falas mais fortes da CPI da Covid até agora. Menos para quem é sócia ou apoiador do grande esquema de morte envolvendo o governo Jair Bolsonaro, o Gabinete Paralelo da Saúde, produtores de fake news, políticos amigos e a própria Prevent Senior.
Resumidamente: o plano de saúde fornecia subsídios a médicos negacionistas e a Jair Bolsonaro para que convencessem a população de que a cloroquina funcionava contra a covid. Assim, poderiam empurrar as pessoas de volta à rua - e satisfazer aos moços que têm offshores nas Ilhas Virgens. Para tanto, usava seres humanos como cobaias em experimentos humanos manipulados à la Josef Mengele. Sendo peça-chave do esquema, a Prevent Senior acreditava estar blindada para encher seus clientes de cloroquina, cortar tratamentos e retirar a covid de atestados de óbito
Afinal, é mais barato dar comprimido do que manter no respirador - o que pode ser decisivo para uma rede que atende basicamente idosos. O nível era tão baixo que, segundo a advogada Bruna Morato, um dos profissionais de saúde ouviu do hospital uma tétrica recomendação: "óbito também é alta".
Em outro país, os responsáveis pela empresa e pelo experimento humano seriam impedidos de passar a um quilômetro de um posto de saúde. No Brasil, contudo, são defendidos bravamente por senadores da base governista, pelos fãs de Jair Bolsonaro e pelo próprio bilionário que passou pano para a fraude no atestado de óbito da mãe.
É tanta porcaria que vem sendo revelada na sequência que uma população anestesiada, seja pelo cansaço ou pela descrença, corre o risco de encarar a repetição de um dos mais odiosos crimes contra a humanidade como algo normal.
Até porque o bolsonarismo já anestesiou várias das instituições que não conseguiu sequestrar. Tanto que o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Roberto Rebello Filho, afirmou à CPI, nesta quarta (6), que vai sim rolar intervenção na Prevent Senior... em, pelo menos, 15 dias. A agilidade impressiona.
Como já disse aqui, o segredo do sucesso da Prevent Senior no tratamento da covid não foi a hidroxicloroquina, mas a borracha, que apagou a doença dos prontuários médicos e dos atestados de óbito. Como no registro das mortes do médico negacionista Anthony Wong e de Regina Hang, mãe do empresário negacionista Luciano Hang.
Tadeu, por pouco, não se transformou em mais um dos casos que vem sendo tratados pela CPI. Pois, se tivesse morrido, alguém faria a mágica de tirar a covid de seu prontuário, como foi feito com vários outros pacientes.
Espera-se que o Brasil ainda se emocione com a história de uma pessoa que quase morreu por culpa da ganância e do negacionismo de outros, mas sobreviveu para contar a história.
A impressão, contudo, é que vamos sair dessa pandemia mais à imagem e semelhança do presidente da República, mesmo que ele perca a eleição. Seu legado será um país mais enamorado da morte, mais insensível à dignidade humana, em que "todo mundo morre um dia" substitua o "ordem e progresso", com cada um por si e Deus acima de todos.