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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rejeição das mulheres a Bolsonaro piora com inflação alta e queda na renda

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/03/2022 16h30

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Jair Bolsonaro (PL) tem 23% da preferência entre as mulheres e 34% entre os homens. É o que aponta a pesquisa FSB/BTG Pactual, divulgada nesta segunda (21), que também mostra a aprovação de seu governo ser nove pontos menor entre as mulheres (25%) do que junto aos homens (34%).

Enquanto isso, Lula conta com 44% do voto das mulheres e 41%, dos homens. O que lhe garante boa vantagem, pois elas representam 52% do eleitorado.

Apoiadores do presidente têm defendido que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ajude a melhorar a imagem do marido, principalmente entre os evangélicos. A questão é que, para tanto, ela teria que operar um milagre econômico.

Há uma parcela das mulheres que reprova Bolsonaro por seu comportamento historicamente machista, misógino e violento - quando parlamentar, ele afirmou, por exemplo, a uma deputada federal que ela não "merecia" ser estuprada por ele e disse que teve uma filha mulher porque deu uma "fraquejada".

Isso não mudou quando assumiu o governo, pelo contrário. Sua visão sobre elas pode ser resumida em uma frase do discurso que proferiu, no último 8 de março, em celebração do Dia Internacional da Mulher. Nele, o presidente afirmou que "as mulheres estão praticamente integradas à sociedade" - mostrando, dessa forma, que é ele quem não está.

Sua política de liberação de armas tem efeito negativo junto ao público feminino, apesar de conseguir bons resultados junto a homens inseguros. Além disso, seu negacionismo na pandemia de covid-19, que ajudou o país a atingir quase 660 mil mortes, também é repudiado mais por mulheres do que homens.

Bolsonaro foi eleito sem esconder quem era e o que defendia. A pesquisa boca de urna do Ibope, com precisão maior por ser uma consulta baseada em quem os eleitores votaram, apontou que Bolsonaro teve 52%, enquanto Haddad, 48%, entre as mulheres no segundo turno de 2018. Um empate técnico no limite da margem de erro, de 2%. Não se deve comparar pesquisas, mas o presidente acredita que pode repetir a dose, mesmo sendo o candidato que representa o machismo estrutural.

Contudo, agora ele administra um país com uma inflação anual de 10,54%, uma queda de 9,7% no rendimento médio dos trabalhadores em 12 meses, um desemprego em 12 milhões e um botijão de gás a R$ 150. E os impactos da crise econômica se fazem sentir mais entre as mulheres (principalmente as negras) do que entre os homens, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE.

Não apenas porque elas foram atingidas em cheio pelo desemprego e pela queda de renda, mas também porque muitas delas são as responsáveis pelo bem-estar de suas famílias. É a crise econômica e não questões comportamentais e culturais que tira o sono de dezenas de milhões de mulheres diariamente.

A chamada terceira via poderia ter se dedicado a conquistar esse público, exatamente onde Bolsonaro é mais frágil e tentar avançar por aí. Até agora, porém, não se mostra bem-sucedida.

Além de Lula, apenas André Janones (Avante) tem uma diferença de voto entre mulheres (4%) e homens (1%) acima da margem de erro de 2%.

Considerando o voto em mulheres e homens, respectivamente, Ciro Gomes (PDT) tem 8% e 9%; Sergio Moro (Podemos), 9% e 7%; João Doria (PSDB), 3% e 1%; Eduardo Leite (PSDB), 1% e 2%; e Simone Tebet (MDB), 1% e 1%.

Em 4 de fevereiro, Bolsonaro soltou uma ironia para os seus fãs na porta do Palácio do Alvorada, afirmando que "segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim" - reforçando a desconfiança que sempre jogou sobre levantamentos de opinião que lhe são desfavoráveis.

Mulheres votam sim em Bolsonaro, mas elas, segundo a FSB/BTG Pactual, são quase metade das que escolhem Lula. E a melhora desse índice está diretamente relacionada à melhora do país, assunto que não encontra muito espaço na agenda do presidente porque ele está sempre em campanha.