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Datafolha mostra que Moro subiu no telhado, e Doria e Leite como nanicos
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Pesquisa Datafolha divulgada, nesta quinta (24), confirma que o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), que está na Alemanha fazendo campanha para a Presidência do Brasil, não decolou - apesar da quantidade de horas e páginas dedicadas a ela pela imprensa. Com isso, a viabilidade de sua candidatura ao Palácio do Planalto, que já é questionada por candidatos do partido preocupados em focar recursos e energia nas eleições legislativas, sobe de vez no telhado.
Moro tem 8%, tecnicamente empatado com o ex-governador Ciro Gomes (PDT) - que aponta 6%, 7% ou 8%, dependendo dos quatro cenários analisados, e que também não cresce, emparedado entre a esquerda e a centro-direita. No Podemos, a expectativa era de que o ex-ministro de Jair Bolsonaro estivesse com, ao menos, o dobro disso no meio de março.
A pesquisa também mostra que a briga interna no PSDB, com uma ala que discute dar um golpe nas prévias do partido, trocando João Doria por Eduardo Leite diante da alta rejeição do primeiro, até agora significa muito barulho por nada.
No cenário com o governador de São Paulo, Doria marca 2% - empatado numericamente com André Janones (Avante) e tecnicamente com Vera Lúcia (PSTU), Simone Tebet (MDB) e Felipe d'Ávila (Novo), com 1%.
E no que ele é trocado por Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul chegaria à metade disso, 1%. Nesse cenário, ficaria atrás de Janones (3%) e empatado com Vera Lúcia e Simone Tebet.
No cenário sem Eduardo Leite e Simone Tebet, o que seria o caso de uma chapa Doria-Tebet, o paulista continua com 2%, perdendo para Janones, com 3%. E num cenário sem Doria, nem Leite, Ciro agradece e chega a seu melhor resultado numérico, com 8%.
Considerando que a margem de erro é de dois pontos, isso mostra que, hoje, a briga tucana trocaria um candidato nanico por outro nanico, tecnicamente empatados.
Claro que, por enquanto, o único que colhe os frutos de visibilidade de uma campanha eleitoral antecipada é Bolsonaro. Nomes podem desistir ou compor uma chapa, como a costura que vem sendo feita entre PSDB/Cidadania e MDB, o que poderia mudar o quadro. Mas, até agora, os pré-candidatos da terceira via brigam avidamente pelo direito de perder a eleição em outubro.
Na disputa principal, Lula aparece em três cenários com 43% e em um com 44% e Bolsonaro, sempre com 26%. Na espontânea, eles têm 30% e 23%, respectivamente. Não é possível comparar com levantamentos anteriores porque nomes foram retirados e outros colocados. Mas na pesquisa de segundo turno, a diferença caiu: Lula e Bolsonaro marcavam 59% a 30%, em dezembro, e 55% a 35%, agora, em março.
Houve um claro movimento de recuperação da imagem do presidente. A reprovação a seu governo caiu de 53%, em dezembro, para 46% em março, enquanto a aprovação subiu de 22% para 25%.
Isso pode ser explicado pelo fato dele estar em campanha de forma praticamente integral, fazendo comícios e motociatas com recursos públicos e sem ser incomodado pela Justiça Eleitoral. Ao mesmo tempo, o arrefecimento da pandemia reduziu a insatisfação com a tragédia sanitária que foi o seu mandato e melhorou o ambiente para a criação de postos de trabalho. E apesar da inflação, do desemprego e da fome, os gastos com Auxílio Brasil e bilhões em algumas ações eleitoreiras ajudam-no a ganhar uns pontos entre os mais pobres.
Com isso, Jair vai recuperando terreno junto à parte do eleitorado que votou nele, mas o abandonou nos últimos anos - ao contrário dos 15% de bolsonarismo-raiz que nunca lhe deu as costas. Moro apostava que conseguiria absorver a direita antipetista descontente com o negacionismo e a incompetência do presidente, mas com a terceira via empacada, os eleitores desistiram de esperar e muitos estão voltando para casa.