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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Moro 'devolve' votos a Bolsonaro, que alcança Lula em SP, aponta Ipespe

Ricardo Stuckert e Carolina Antunes/PR
Imagem: Ricardo Stuckert e Carolina Antunes/PR

Colunista do UOL

11/04/2022 11h35

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Lula (PT) lidera numericamente em intenção de voto para a Presidência da República entre os eleitores do Estado de São Paulo, com 34%, mas está em situação de empate técnico com Jair Bolsonaro (PL), que atingiu 30%, de acordo com pesquisa Ipespe, divulgada nesta segunda (11). A margem de erro é e 3,2 pontos percentuais. Parte disso é devolução de votos que Moro havia tomado "emprestado" quando ainda era uma promessa da terceira via.

Como houve mudança no rol dos candidatos avaliados, não é possível comparar este levantamento sobre a opinião dos paulistas com o último, realizado em fevereiro. Naquele mês, Lula marcava os mesmos 34% e, Bolsonaro, 26%.

Contudo, o presidente foi o principal beneficiário da saída de Sergio Moro da corrida presidencial não só neste levantamento, como também os de outros institutos. Bolsonaro também se recuperou em todo o país como consequência de investimento em benefícios sociais e o arrefecimento da pandemia, mas isso é o contexto que ajudou a guiar os votos de Moro de volta para casa.

O perfil do eleitorado do ex-juiz casa com aquele que depositou seu voto em Jair em 2018. De acordo com dados da Ipespe nacional, na região Sudeste, Bolsonaro foi de 25% para 31% e, na Sul, de 31% para 39%. Nas outras, permaneceu estável. Entre quem ganha mais de cinco salários mínimos por mês, Bolsonaro foi de 31% para 35%. Esses grupos demográficos reúnem parte significativa de antipetistas e moristas, que apostavam no ex-juiz como alternativa a Bolsonaro e Lula. Em São Paulo, Moro apontava 11% em São Paulo em fevereiro.

Moro interferiu na eleição de 2018, favorecendo Bolsonaro, seja ao ter tirado Lula do páreo em uma condenação posteriormente extinta pelo STF, que também o declarou parcial, e ao divulgar a delação sem provas de Antonio Palocci, que era negativa ao PT, no meio do processo eleitoral. Com isso, ele conseguiu emprego como ministro da Justiça e Segurança Pública até que saiu brigado com o presidente ao descobrir que Jair era Jair.

Em São Paulo, Ciro Gomes (PDT) registra 8%, João Doria (PSDB), 6%, Simone Tebet (2%), e André Janones, Felipe D'Avila, Vera Lúcia (PSTU) e Eymael (PSDC), sim, o da musiquinha, têm 1%.

A polarização entre Lula e Bolsonaro influencia a situação de seus afilhados para a eleição ao Palácio dos Bandeirantes. No principal cenário, Fernando Haddad (PT) registra 29%, Márcio França (PSB), 19%, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 13%, e Rodrigo Garcia (PSDB), 5%. Sem o ex-governador, Haddad vai a 35%, Tarcísio sobe a 18% e Garcia, a 9%.

Por enquanto, França funciona como colchão entre o PT e os candidatos do Republicanos e do PSDB. O Datafolha apontou, na semana passada, que o ex-governador conta com 23% entre os eleitores que avaliam o governo Bolsonaro como ótimo ou bom, no empate técnico com o próprio Tarcísio (26%).

Quando o ex-ministro da Infraestrutura é colado à imagem de Bolsonaro, como seu candidato, ele vai a 29%, bombado pela intenção de voto no presidente em São Paulo. Haddad também sobe para 39% quando apresentado como o candidato de Lula. Garcia sobe pouco, apenas a 11%, quando é conectado a Doria.

A pesquisa Ipespe não simulou um segundo turno entre Haddad e França, então não é possível saber qual seria o desempenho dos dois em um confronto direto. Haddad vence Tarcísio (40% a 27%) e Garcia (39% a 23%), tal qual França vence Tarcísio (39% a 25%) e Garcia (42% a 20%). Com base no perfil do eleitorado paulista, é difícil um segundo turno entre PT e PSB.

O peso do lulismo e do bolsonarismo, que está mantendo a terceira via até agora fora do jogo principal no cenário nacional, também é sentido em São Paulo. Contudo, aqui há particularidades. As pesquisas até agora mostram que, em São Paulo, o voto "nem Lula, nem Bolsonaro" consegue mais tração do que em outros lugares, o que garantia melhor pontuação para Moro. Não à toa, ele se mudou de Curitiba para São Paulo para tentar se eleger e puxar bancada.

Além disso, tanto o antipetismo quanto o antibolsonarismo são fortes em São Paulo, o que deve tornar tanto a batalha nacional quanto a estadual uma guerra de rejeições.

Com isso, França aparece como alternativa (apesar do PSB estar com o PT através de Geraldo Alckmin) e o próprio governador Rodrigo Garcia não tem pontuação de largada desprezível, conta com o potencial de quem acabou de assumir com o cofre cheio para gastar até as eleições e já demonstra desapego do padrinho, João Doria, mal avaliado no estado.