Leonardo Sakamoto

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Opinião

Em ato pró-Bolsonaro, selfie em escada com agradecimento a Musk custa R$ 5

Em meio ao ato em defesa de Jair Bolsonaro, na praia de Copacabana, neste domingo (21), subir em uma escada por um minuto para tirar uma selfie do alto com a multidão ao fundo ou uma foto do carro de som de onde eram feitos os discursos da nata do bolsonarismo custava R$ 5. O equipamento contava ainda com uma faixa de agradecimento a Elon Musk - em inglês, claro, que é para o bilionário dono do X/Twitter poder entender.

A "Escada da Democracia" foi instalada na avenida Atlântica, entre as ruas Bolívar e Xavier da Silveira. As instrucões eram simples: 1) entre na fila; 2) suba na escada; 3) tire sua foto; 4) tempo de um minuto. "Ajude nosso projeto pelo Brasil", diz a placa. Fez sucesso.

O QR da chave PIX leva ao nome de Carlos Alberto Sales do Nascimento. A coluna não conseguiu contato com ele até agora para que pudesse falar o tal projeto.

Em um ato em que manifestante apareceu com cartaz afirmando "A ordem é a intervenção militar já! Ninguém vai nos calar", apesar dos pedidos dos organizadores para que isso não acontecesse, a escada é um empreendimento racional. E não apenas por questões econômicas, pois ela se encaixa nas intenções de Bolsonaro e aliados para o evento.

Com o ex-presidente se enroscando nas investigações sobre o golpe de Estado que tentou dar entre o segundo turno de 2022 e o 8 de janeiro de 2023, e com o risco real de ser condenado e banido da política por 30 anos, ele precisa produzir continuamente imagens para vender a ilusão de que o Brasil inteiro está a seu lado. Tal como fez na avenida Paulista em 25 de fevereiro deste ano.

Isso não vai afastá-lo do xilindró, mas há a esperança de que isso pressione o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral e, ao mesmo tempo, ajude a manter seu rebanho unido para as eleições de outubro.

Uma conhecida tática adotada por Jair é pedir para seus seguidores espalharem imagens de aglomerações a fim de tentar convencer que o apoio a ele é bem maior do que realmente é. Partem de um fato concreto (o ex-presidente é realmente uma pessoa popular capaz de atrair multidões) para vender uma extrapolação falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros está com ele, o que não é verdade).

Quando sequestrou o Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022, ele encheu a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e a avenida Atlântica, no Rio. Imediatamente, sua equipe nas redes sociais passou a postar que essa era prova de que a maioria do povo brasileiro estava com ele. O mesmo aconteceu quando colocou dezenas de milhares na avenida Paulista há dois meses.

De acordo com institutos de pesquisa, o bolsonarismo-raiz gira entre 15% e 20% da população, o que, repito, não é pouca gente - dá entre 30 e 40 milhões. Esse grupo está com ele em todos os momentos. Mas é fotos e vídeos produzidos neste domingo já estão circulando pelos grupos de WhatsApp e de Telegram e pelas redes, transmitindo a ideia de que o país está com ele.

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A "Escada da Democracia", que permitiu fotografar a multidão em Copacabana, pode parecer ridícula para muita gente, mas se encaixa nessa estratégia de producão de imagens para a guerra simbólica. Rir disso é subestimar a estratégia do grupo que quase derrubou a democracia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL