Após acusar Brasil de censura ao X, comitê dos EUA vota por censurar TikTok
Após divulgar um "relatório" acusando o Brasil, o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes de censura ao X/Twitter, a maioria dos membros do Comitê de Assuntos Jurídicos da Câmara dos Deputados dos EUA votou, neste sábado (20), por banir o TikTok do país caso o controle não passe para uma empresa norte-americana. Acompanhou, dessa forma, a maioria da Câmara, que chancelou a proposta.
O relatório criticando as instituições brasileiras foi produzido por arquivos repassados pela empresa de Elon Musk, dono do X, que tem atacado sistematicamente Moraes.
Na Câmara dos Deputados, o projeto foi aprovado em meio a um pacote que prevê ajuda para Israel, Taiwan e Ucrânia. Votado separadamente, o trecho que trata do banimento ao TikTok teve 360 votos favoráveis, 58 contrários e 13 abstenções.
Esse trecho também prevê sanções ao Irã, que está travando um bailado com mísseis e drones com o governo Benjamin Netanyahu para a demonstração de força, com ataques calculados de ambas as partes. Juntar essas sanções tem como objetivo forçar o Senado, que ainda analisará a matéria, a aprovar a restrição à plataforma caso a ByteDance, chinesa que a controla, não vender o comando para alguém dos Estados Unidos.
A justificativa é que hoje o TikTok pode colocar em risco a segurança nacional, uma vez que a empresa poderia ser obrigada a compartilhar dados com o governo chinês. Ironicamente, o governo dos EUA é acusado de já exigir o compartilhamento de informações de usuários das plataformas sediadas no país.
Entre os membros do Comitê de Assuntos Jurídicos da Câmara, que divulgou, na semana passada, o relatório acusando o Brasil de censura à liberdade de expressão, 29 foram a favor e 13, contra. Considerando apenas os republicanos, foram 14 favoráveis e nove, contrários. Entre os democratas, 15 a favor e quatro, contra.
O relatório contra o Brasil divulgado pelo Comitê de Assuntos Jurídicos foi produzido com a ajuda de seu Subcomitê sobre a Instrumentalização do Governo Federal, criado em janeiro do ano passado para investigar supostos abusos do governo Joe Biden para suprimir pontos de vista conservadores.
Entre os membros do subcomitê, de maioria republicana, foram 15 votos a favor do projeto de lei que prevê o banimento do Tik Tok e cinco, contra. Mesmo entre os republicanos, a proposta teve maioria.
Trumpista, presidente do comitê votou por banir TikTok
Tanto o Comitê de Assuntos Jurídicos quanto o subcomitê são presididos por Jim Jordan, deputado republicano apontado como fundamental nos esforços de Donald Trump para tentar subverter as eleições de 2020 pela própria Câmara.
Jordan votou a favor da censura ao TikTok.
O relatório final do Comitê da Câmara dos Deputados para investigar o ataque de seguidores de Trump ao Congresso dos EUA para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden, em 6 de janeiro de 2021, afirma, em sua página 141, que o republicano Jordan foi um "um ator significativo nos esforços do presidente Trump" para tentar virar a mesa.
Segundo o relatório, ele "participou de várias reuniões pós-eleitorais nas quais altos funcionários da Casa Branca, [o advogado de Trump] Rudolph Giuliani, e outros, discutiram estratégias para contestar a eleição, a principal delas afirmando que a eleição tinha sido contaminada por fraude".
No dia 2 de janeiro de 2021, quatro dias antes do ataque ao Congresso que terminou com cinco mortes e dezenas de prisões, Jordan coordenou uma teleconferência com Trump e outro congressistas para "discutir estratégias a fim de atrasar a sessão conjunta de 6 de janeiro" que certificou Biden como o vencedor.
Durante essa reunião, segundo o relatório do comitê criado pela Câmara, o grupo discutiu a divulgacão de postagens nas redes sociais para empurrar os apoiadores de Trump para "marcharem para o Congresso" no dia 6. Tal como no 8 de janeiro no Brasil, as publicações em redes foram consideradas fundamentais para os atos golpistas.
"Nos dias que se seguiram ao 6 de janeiro, o deputado Jordan conversou com a equipe da Casa Branca sobre a perspectiva de conceder perdões presidenciais a membros do Congresso", afirma o relatório. Ou seja, buscava anistia para si e os colegas.