Leonardo Sakamoto

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Opinião

Renda sobe, desemprego cai, mas desgosto está no preço do arroz e do feijão

Renda dos domicílios subiu, desemprego caiu, PIB cresceu, juros estão sendo reduzidos, dívidas encolhidas. Contudo, isso não se traduziu, necessariamente, em melhora na qualidade de vida de todos os trabalhadores. Como venho repisando aqui desde o começo do ano, o motivo é o arroz e o feijão, ou seja, o preço dos alimentos que continua nas alturas desde o último governo.

Discordo das análises que não consideram a percepção sobre o custo de vida como uma das questões centrais para a perda de aprovação do governo Lula e olham só para os grandes índices. Trabalhadores e suas famílias não comem indicador econômico temperado com arcabouço fiscal. Isso alimenta outra espécie, os farialimers.

A economia melhorou no país com o governo Lula, mas isso ainda não se traduziu em um grande salto para a vida cotidiana, tal como ocorreu nos dois primeiros mandatos do petista. O que impacta negativamente sua popularidade.

A renda média domiciliar mensal por pessoa no Brasil subiu para R$ 1.848 em 2023, uma alta de 11,5% em relação ao ano anterior — o maior patamar desde 2012, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, divulgada nesta sexta (19).

Ao mesmo tempo, a taxa de desocupacão no semestre encerrado em fevereiro fechou em 7,8% — um ano antes, ela estava em 8,6% e, dois anos antes, em 11,2%. E o ano passado teve inflação menor e dentro do teto da meta (4,62%), mas isso não significa que os preços voltaram a patamares anteriores ao salto inflacionário de 2021 (10,06%) e 2022 (5,79%).

Enquanto o bolsonarismo se esforça para tentar convencer que a picanha, usada por Lula em sua campanha eleitoral para prometer dias melhores, disparou de preço (quando, na verdade caiu, em média, 10,3% em 12 meses, acompanhada de quedas de 7,45% na alcatra e 10,62%, na costela), o problema político está no peso do arroz com feijão do cotidiano, como já apontei aqui outras vezes.

No acumulado dos últimos 12 meses, o arroz subiu 28,39% (tendo chegado a 30,72%) e o feijão preto, 22,17%, segundo o IPCA, a inflação oficial, do mesmo IBGE. Além disso, dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apontam que os itens da cesta básica tiveram forte subida no último ano, seja pelos problemas conjunturais devido ao casamento do El Niño com as mudanças climáticas, seja por razões de entressafra.

E uma comparação dos valores da cesta, entre março de 2023 e 2024, de acordo com dado o Dieese, mostrou que todas as 17 capitais avaliadas tiveram alta de preço, exceto Natal.

Para além de agir para reverter os preços de alimentos (investir na formação de estoque, ajudar mais os pequenos agricultores, fomentar a produção de arroz em outras regiões), o governo vai ter que mostrar ao país que a economia melhorou apesar de o bolsonarismo bater bumbo dizendo que não.

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Mas, enquanto isso, vai receber críticas. Pedir paciência que os resultados devem aparecer em breve, como sugeriu o próprio presidente, faria sentido com um povo bem alimentado, não um que chegou a contar 33 milhões de famintos produzidos pelo governo Jair Bolsonaro.

Lula conseguiu ser eleito porque uma parte dos eleitores, que não são petistas, nem bolsonaristas, também acreditou em sua promessa de dias (de compras) melhores. Com picanha e cerveja, mas principalmente com arroz e feijão.

Para garantir que ele seja um cabo eleitoral forte em outubro de 2024 e se reeleja ou aponte um sucessor em 2026, os trabalhadores vão ter que perceber isso. O que passa pelo crivo implacável no caixa do supermercado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL