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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro quer sua corrupção investigada só em 100 anos por historiadores

Colunista do UOL

13/04/2022 17h37

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O governo federal negou acesso às informações sobre as visitas ao Palácio do Planalto de Gilmar dos Santos e Arilton Moura - os pastores amigos de Jair Bolsonaro que cobravam pedágio em ouro de prefeitos para acesso aos fundos bilionários do Ministério da Educação.

A área do general Augusto Heleno (aquele que cantava "se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão", na campanha de 2018) foi a responsável por bloquear o pedido do jornal O Globo sob a justificativa de não comprometer a segurança do presidente. O que não disse, contudo, é que é a segurança eleitoral que está em jogo.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional está protegendo os votos do chefe, considerando que as informações sobre as reuniões entre os religiosos e Bolsonaro ou seus assessores poderiam ajudar a instalar uma CPI do MEC.

O presidente foi questionado no Twitter sobre a razão de impor sigilo de 100 anos em assuntos espinhosos e polêmicos de seu mandato. Seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, que comanda a equipe que cuida das redes sociais do pai, respondeu: "em 100 anos, saberá".

O escárnio vem da certeza de que nada vai acontecer com o governo se sonegar informação pública de interesse público.

Não é a primeira vez que o Planalto impõe sigilo a informações sobre suas entradas e saídas. Por um século, não saberemos nada sobre as visitas de Carlos Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro, por exemplo, à sede do Poder Executivo.

A Secretaria-Geral da Presidência alegou à revista Crusoé, em julho do ano passado, que isso diz respeito "à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem dos familiares do senhor presidente da República". Alegar intimidade é afirmar que o palácio é um playground para seus filhos brincarem de política.

Bolsonaro diz que não se vacinou contra a covid-19, mas baixou sigilo sobre sua carteira de vacinação por 100 anos. Como ele se ama demais, a chance de não ter se imunizado contra a doença é quase nula.

Mas a informação seria terrível para seus seguidores mais radicais, muitos deles negacionistas e terraplanistas, que pulam no abismo para defende-lo. Eles acreditaram quando o presidente disse que vacinas matavam crianças, produziam barba em mulheres e transformavam pessoas em jacarés. Imagina descobrir que foram tratados como massa de manobra ideológica e que seu próprio líder levou uma Pfizer no braço?

Bolsonaro gosta da passagem bíblica do "Conhecereis a verdade e ela vos libertará" (Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32). Só não diz que a verdade é ele quem constrói.

Como o famoso mito do "estamos há três anos e três meses sem corrupção no governo federal", marca celebrada com pedidos de propina para imunizantes no Ministério da Saúde, compra de Viagra muito acima do preço pelo Ministério da Defesa e sobrepreço em licitações de ônibus escolares rurais e kits de robótica no Ministério da Educação.