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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em MG, 'termômetro' do Brasil, Bolsonaro reduz vantagem de Lula, diz Quaest

O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL)                              - EVARISTO Sá/AFP E ISAC NóBREGA/PR
O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: EVARISTO Sá/AFP E ISAC NóBREGA/PR

Colunista do UOL

12/08/2022 09h30

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Desde a redemocratização, Minas Gerais tem servido como uma espécie de termômetro para a eleição presidencial e, ao mesmo tempo, um estado pêndulo. Quem vence por lá acaba levando a Presidência. Sob esse contexto é que deve ser lida a pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta sexta (12), que aponta Lula (42%) à frente de Bolsonaro (33%) no estado, mas com redução significativa em sua vantagem.

A diferença entre ambos que era de 25 pontos, em março, caiu para 18, em julho, e nove, em agosto. O ex-governador Ciro Gomes marca 6% e a senadora Simone Tebet, 1%. A margem de erro é de dois pontos. Os dados apontam para o aprofundamento da polarização da disputa presidencial em Minas Gerais.

O Amazonas também tem apontado o vencedor, mas Minas ostenta uma proporção mais semelhante à votação nacional e é demograficamente relevante, sendo o segundo maior colégio eleitoral, atrás apenas de São Paulo. Se o Estado tivesse entregue uma expressiva maioria de seus votos ao seu ex-governador Aécio Neves (PSDB), em 2014, por exemplo, a história daquela eleição teria sido outra.

Ao mesmo tempo, a diversidade de seus 853 municípios o torna uma amostra social e econômica do Brasil e, consequentemente, um retrato de seu comportamento eleitoral. Do Vale do Jequitinhonha, passando pelo Vale do Aço, pela Grande BH, o Sul de Minas e o Triângulo Mineiro, há áreas pobres e ricas, urbanas e rurais, industrializadas e voltadas ao agronegócio e à agricultura familiar, mais secas e mais úmidas, com regiões com características semelhantes às macrorregiões do país.

E o que aponta esse termômetro, segundo a Quaest? Que a vantagem de Lula entre quem ganha até dois salários mínimos, ou seja, os mais pobres da amostra da pesquisa, foi de 47 pontos em março, quando Lula tinha 59% e Bolsonaro, 12%, para 28 pontos agora (51% a 23%). O petista continua também a uma distância consistente para o atual presidente entre os beneficiários do Auxílio Brasil (53% a 25%), mas a diferença já foi de 60% a 16%, em julho.

Como a liberação dos R$ 600 do Auxílio Brasil começou a ser pago apenas nesta terça (9), o ganho de popularidade de Bolsonaro junto a essa faixa etária pode estar vindo da expectativa do desembolso dos R$ 200 a mais, além do vale-gás e outros vouchers que foram garantidos em período eleitoral pela PEC da Compra dos Votos.

Também houve redução da diferença entre o que não recebem o auxílio, da mesma forma que o atual presidente ampliou sua liderança entre quem ganha mais de cinco salários por mês.

Minas vota ora com candidatos mais à esquerda, ora vota com os mais à direita

Isso torna a montagem de palanques para conquistar os corações e mentes dos mineiros um dos principais desafios dos pré-candidatos ao Palácio do Planalto. Pesou para Fernando Collor de Mello ter o mineiro Itamar Franco na chapa, da mesma forma que Lula contou com a ajuda do mineiro José Alencar.

Nesta eleição, Lula (PT) fechou aliança com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) - que tem como principal adversário, o governador Romeu Zema (Novo).

Ele, que contou com uma gestão alinhada à de Bolsonaro, tanto que 68% do eleitorado do presidente prefere Zema, não fechou acordo com ele para a eleição, justificando que o seu partido tem um candidato próprio ao Palácio do Planalto (Luiz Felipe d'Avila). Na verdade, queria permanecer como depositário dos votos de ambos os lados. Bolsonaro, dessa forma, terá palanque com o senador Carlos Viana (PL).

Hoje, o atual governador marca 46%, Kalil, 24%, e Viana, 6%. Mas, segundo a Quaest, quando apontados os apoios nacionais de cada candidato, Kalil com Lula marca 33%, Zema com Luiz Felipe d'Avila cai para 23%, e Viana com Bolsonaro vai a 19%. A depender do que aconteça na polarização nacional, Zema pode ter optado por uma estratégia arriscada.

O padrão mineiro de ser um termômetro da campanha nacional se repetirá em outubro deste ano? Em política, tendência não é destino.

Situação semelhante à de Minas Gerais era a de Ohio, Estado-pêndulo para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, ora apontando para um lado, ora apontando para outro. De 1964 a 2016, quem levava no Estado ganhava a Casa Branca. O folclore durou até 2020, quando Joe Biden perdeu de Donald Trump por lá, mas venceu, de forma consistente, a eleição nacional.

Abaixo, arredondados, os votos válidos nacionais e em Minas Gerais nos últimos 33 anos:

1989: Collor vs Lula
Em 1989, considerando resultados nacionais, Fernando Collor de Mello foi eleito com 53% dos votos válidos, enquanto Lula teve 47%. Em Minas Gerais, Collor teve 55% a 44%, vencendo no segundo turno.

1994: FHC vs Lula
Em 1994, considerando resultados nacionais, Fernando Henrique Cardoso foi eleito com 54% dos votos válidos, enquanto Lula teve 27%. Em Minas Gerais, FHC teve 65% a 22%, vencendo no primeiro turno.

1998: FHC vs Lula
Em 1998, considerando resultados nacionais, Fernando Henrique Cardoso foi eleito com 53% dos votos válidos, enquanto Lula teve 32%. Em Minas Gerais, FHC teve 56% a 28%, vencendo no primeiro turno.

2002: Lula vs Serra
Em 2002, considerando resultados nacionais, Lula foi eleito com 61% dos votos válidos, enquanto José Serra teve 39%. Em Minas Gerais, Lula teve 66% a 33%, vencendo no segundo turno.

2006: Lula vs Alckmin
Em 2006, considerando resultados nacionais, Lula foi eleito com 61% dos votos válidos, enquanto Geraldo Alckmin teve 39%. Em Minas Gerais, Lula teve 65% a 35%, vencendo no segundo turno.

2010: Dilma vs Serra
Em 2010, considerando resultados nacionais, Dilma Rousseff foi eleita com 56% dos votos válidos, enquanto José Serra teve 44%. Em Minas Gerais, Dilma teve 58% a 42%, vencendo no segundo turno.

2014: Dilma vs Aécio
Em 2014, considerando resultados nacionais, Dilma Rousseff foi eleita com 52% dos votos válidos, enquanto Aécio Neves teve 48%. Em Minas Gerais, Dilma teve 52% a 48%, vencendo no segundo turno.

2018: Bolsonaro vs Haddad
Em 2018, considerando resultados nacionais, Jair Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos válidos, enquanto Fernando Haddad teve 45%. Em Minas Gerais, Bolsonaro teve 58% a 42%, vencendo no segundo turno.