Leonardo Sakamoto

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Opinião

Brasil anuncia no G20 que 'Tinder' contra a fome e pobreza já deu 'match' 

Sob a presidência do Brasil, o G20 lançou uma iniciativa para conectar governos que tentam combater a fome com países, bancos e organizações interessados em contribuir financeiramente e tecnicamente para isso. Os diplomatas vão ficar irritados com a comparação, mas o mecanismo criado funciona como um "Tinder" contra a miséria com o objetivo de dar match.

Agora, nesta sexta (15), durante a Cúpula Social do G20, o clube das nações mais ricas do mundo, que foi realizado no Rio, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza anunciou compromissos concretos de 41 países, 13 organizações internacionais e 18 organizações não governamentais e filantropias. No final de semana, o total ultrapassou 80 países que decidiram se integrar à Aliança como membros fundadores. A composição está sendo anunciada nesta segunda (18), na Cúpula de Líderes do G20, e deve crescer ainda mais.

Acostumados a lermos notícias sobre desgraça e problemas, isso merece um tanto de nossa atenção devido ao potencial real.

Países que estão passando por situações de calamidade estão entre os primeiros que anunciaram planos para participar da aliança. A Autoridade Nacional Palestina, por exemplo, apontou que quer ampliar as transferências de dinheiro para pessoas com deficiência severa e idosos em Gaza, passando a pagamentos mensais, utilizando pagamentos digitais para beneficiários individuais.

Já o Líbano afirmou que deseja mobilizar recursos para operar uma expansão emergencial da Assistência Nacional para Deficientes, beneficiando 40 mil pessoas cuja situação fo agravada pela crise humanitária em curso devido à escalada do conflito.

Esses dois governos junto com os do Benin, Burundi, Chade, Chile, Equador, Libéria, Nigéria, Omã, Peru, Togo, Tunísia e Zâmbia estão liderando a iniciativa entre os que fazem compromissos para serem apoiados ou financiados. Entre os planos anunciados está o de criar ou melhorar os registros nacionais de beneficiários e sistemas de pagamento para transferências de renda - algo semelhante ao nosso CadÚnico.

Ao mesmo tempo, governos como os de Portugal e do Reino Unido estão ampliando a colaboração com organizações como as agências da ONU para alimentação e agricultura, trabalho, infância e bancos de fomento para expandir o apoio financeiro e técnico para os países de baixa e média renda que anunciaram os compromissos.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento, por exemplo, já anunciou 25 bilhões de dólares em crédito e mais 200 milhões em doação para assistência técnica. O BID também espera o aumento de doações de recursos para a iniciativa.

O mecanismo do "Tinder contra fome" já conta com recursos do Brasil e outros países para o seu funcionamento - a grana para isso não é a mesma para a doação aos programas que, claro, é bem maior. Não foi calculado, contudo, quanto de dinheiro já foi prometido.

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Os anúncios de adesão à iniciativa vêm sendo vistos como uma surpresa positiva, o que mostra que o mecanismo da aliança pode não ser só mais uma declaração a ser esquecida na próxima presidência do G20, mas uma abordagem nova com potencial.

Afinal, em toda a reunião multilateral fala-se da importância de combater a fome (pois todo mundo é contra a fome e, nesse sentido, o Brasil acertou em colocar o tema como prioridade de sua presidência), mas poucas ações concretas são postas na mesa para melhorar o enfrentamento à questão para além da doação desconectada e pontual.

A meta é alcançar 500 milhões de pessoas com programas de transferências de renda e sistemas de proteção social em países de baixa e média baixa renda até 2030, expandir as merendas escolares de alta qualidade para mais 150 milhões de crianças em países com fome e pobreza infantil endêmica, alcançar 200 milhões de mulheres e crianças de zero a 6 anos com iniciativas em saúde materna e primeira infância, implementar programas de inclusão socioeconômica para 100 milhões de pessoas com foco nas mulheres.

Se conseguir ainda que uma fração disso, o Tinder capitaneado pelo Brasil já terá levado alegria a muita gente.

Em tempo: falando de ações estruturais, uma das propostas mais importantes que estão sendo debatidas pelos diplomatas no G20 é a taxação de 2% da renda dos super-ricos (3.000 semoventes que possuem mais de 3 bilhões de dólares) para o combate à fome em todo o mundo. Com isso, estima-se algo em torno de 200 a 250 bilhões em receitas. A proposta está sofrendo críticas de governos de extrema direita, ironicamente aqueles que aumentaram a fome em seus países sob a justificativa de ajuste fiscal.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL