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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Empresa de Hang ajudou eleição de bolsonarista ao Senado, o que é proibido

Colunista do UOL

10/10/2022 10h25

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Jorge Seif (PL) foi eleito ao Senado por Santa Catarina com a ajuda da estrutura de comunicação e de assessoria de imprensa da Havan, rede de lojas do empresário Luciano Hang, aponta reportagem do jornal Valor Econômico desta segunda (10). Pela lei eleitoral, isso pode levar à perda do mandato. Seif é tão íntimo do presidente que foi apelidado por ele de filho "06".

A lei eleitoral impede que pessoas jurídicas contribuam ou façam doações a campanhas, o que configura abuso de poder econômico e pode levar à perda do mandato. A investigação de Ricardo Mendonça, do Valor, apurou que a Havan foi além disso.

Divulgava fotos, releases, discursos, entrevistas e até a agenda de campanha de Seif, usando mailing e logotipo da empresa. Quem precisasse de mais informações sobre eventos com o candidato era orientado a ligar para a Havan. A estrutura da empresa também era usada para fazer a cobertura dos atos de campanha. O conteúdo era reproduzido por veículos de imprensa de Santa Catarina.

"Luciano Hang e Jorge Seif convidam para coletiva de imprensa" é exemplo de um dos documentos, enviado em 19 de setembro. "É o meu candidato e o candidato do presidente Bolsonaro. Precisamos eleger o presidente e também levar para Brasília candidatos que estão comprometidos com as mudanças do nosso país", disse Hang no release.

Release enviado pela Havan promovendo a candidatura de Jorge Seif - Reprodução - Reprodução
Release da Havan promovendo a candidatura de Jorge Seif
Imagem: Reprodução

O ex-secretário da Pesca do governo Bolsonaro teve 39,8% dos votos, enquanto que o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) ficou com 16,3%.

Com a maior bancada no Senado a partir de 2023, com 13 assentos, o PL já reivindica a Presidência da casa, enquanto Rodrigo Pacheco tenta a reeleição - seu partido, o PSD, terá 11 senadores e pode chegar a 12 na hipótese de Seif perder o mandato e, em uma nova eleição, Colombo disputar e vencer. Nesse caso, o PL iria a 12. Essa conta não inclui, claro, mudanças de bancadas com o segundo turno das eleições estaduais, em que há senadores concorrendo.

A questão, portanto, não é apenas de mudança na representação de Santa Catarina na câmara alta do Congresso Nacional, mas pode afetar o jogo pelo controle do próprio Senado e, portanto, pela aprovação de leis e até a cassação de ministros do STF.

Há, contudo, grande chance da palavra final do Tribunal Superior Eleitoral ser dada sobre isso apenas no ano que vem. A Justiça Eleitoral só pode começar uma ação após uma denúncia ser apresentada formalmente por um partido que se sentiu prejudicado, por exemplo. Daí, precisará avaliar materiais e ouvir testemunhas. O caso passaria pelo Tribunal Regional Eleitoral de SC.

Segundo a reportagem, a campanha de Seif disse que isso foi feito "à revelia da campanha" e que Hang se colocou à disposição como "ativista" - apesar de a questão não ser Hang, mas o uso da Havan. A empresa não respondeu ao jornal. A coluna também tentou contato com a Havan, mas não teve sucesso.

Em 2018, MPT acusou Havan de coagir empregados a votar em Bolsonaro

Não é a primeira vez que a Havan é acusada de interferir em uma eleição. Em 2018, o Ministério Público do Trabalho processou as lojas Havan e seu proprietário, Luciano Hang, em, pelo menos, R$ 25 milhões por dano moral coletivo por intimidar seus empregados a votarem em Jair Bolsonaro na eleição presidencial.

Além disso, o MPT também pediu R$ 5 mil a cada um dos cerca de 15 mil empregados, na época, como dano moral individual, o que elevaria o montante em R$ 75 milhões, totalizando um valor em torno de R$ 100 milhões. O caso ainda está em análise judicial.

De acordo com a ação civil pública, o proprietário promoveu campanhas políticas em prol do candidato com o envolvimento obrigatório de empregados em "atos cívicos". Ele teria feito ameaças explícitas de fechar as lojas e dispensar os empregados, caso o adversário de seu candidato ganhasse a eleição.

Além disso, os trabalhadores teriam sido constrangidos a responder, em mais de uma ocasião, enquetes internas promovidas pela Havan em seus terminais de computadores, informando em quem votariam - num momento em que já era conhecida a preferência do dono da empresa. Na época, esta coluna procurou o departamento jurídico da Havan, que não quis se pronunciar.

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