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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Golpistas ferem repórteres e expõem bolsonarismo como sinônimo de violência

25.nov.2022 - Equipe do UOL Notícias é cercada por bolsonaristas na frente da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ) - UOL
25.nov.2022 - Equipe do UOL Notícias é cercada por bolsonaristas na frente da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ) Imagem: UOL

Colunista do UOL

26/11/2022 23h29

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As agressões sofridas por dois jornalistas do UOL Notícias por seguidores de Jair Bolsonaro em frente à Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), nesta sexta (25), reforçam a lição que o presidente nos ensinou por quatro anos: bolsonarismo não é sinônimo de liberdade, mas de violência.

Ambos faziam uma reportagem em vídeo entrevistando participantes de um acampamento que pede intervenção militar montado em frente à academia quando foram cercados. Mesmo com a intervenção da Polícia do Exército para proteger os profissionais, os bolsonaristas machucaram a mão da cinegrafista, chutaram o repórter e arrancaram um celular.

Insaciável, a horda ainda tentou perseguir o carro da reportagem.

O relato dos jornalistas é impressionante. O filho de um dos bolsonaristas pediu com voz alarmada: "não bate nela". Quando um adolescente age como pai do próprio pai em uma situação como essa é porque o ódio já alterou a capacidade desse homem perceber o que é real e o que não é. Para ele, a viagem de volta à civilização, se ocorrer, será lenta e dolorosa. Uma pena.

O comportamento dos golpistas é também um exemplo do autoritarismo que cresceria livre por aqui caso Bolsonaro tivesse vencido o segundo turno, no dia 30 de outubro. Porque, como ele mesmo alertou, o seu segundo mandato seria mais virulento do que o primeiro em termos ideológicos, o que empoderaria suas milícias, armadas até os dentes por necrodecretos.

Porque a liberdade de expressão do bolsonarismo vale apenas para o próprio bolsonarismo, não para quem discorda de seus métodos e sua visão agressiva de mundo. O bolsonarismo exige que as instituições sejam tolerantes com sua intolerância - escondendo que a tolerância com a intolerância acaba levando ao fim dos tolerantes, engolidos por uma ditadura.

O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil de 2021, elaborado pela Fenaj, mostra que Bolsonaro foi o principal agressor de jornalistas, responsável por 147 casos registrados, ou 34,19%.

Dirigentes da EBC, empresa pública de comunicação sob responsabilidade de Bolsonaro, responderam por outros 142 casos - ou 33,02% dos registros, principalmente por conta da censura baixada durante a atual gestão. Mas 4,65% dos casos partiram de manifestantes bolsonaristas. No total, foram 430 casos em 2021, dois a mais que o ano anterior.

Ou seja, Bolsonaro é o corresponsável pela violência contra jornalistas cometida em seu nome. Seu comportamento e seus discursos, acusando a imprensa de mentir quando a narração dos fatos lhe desagrada, alimentam as milícias que agem para defendê-lo, tornando a vida de profissionais de comunicação um inferno.

Para muitos de seus seguidores, um ataque à imprensa em nome de Bolsonaro é uma missão civilizatória, quase divina. E agridem jornalistas achando que estão em uma cruzada quando estão, na verdade, cometendo um crime. Nesses últimos quatro anos, foram muitos os casos de violência física, ameaças e assédios sofridos por causa do presidente, colocando o Brasil em listas negativas de entidades que monitoram a liberdade de imprensa.

Bolsonaro deseja que matérias de jornalistas não questionem a "Verdade" ditada por ele pelas redes sociais, aplicativos de mensagens e lives - lives em que ele ensinou, por exemplo, que as vacinas contra a covid-19 causam Aids e matam adolescentes. Uma verdade rasa que esconde um desprezo pela vida e um profundo vazio de políticas para o Brasil e que serve como cortina de fumaça para encobrir os casos de corrupção de sua família.

Jair tem dois grandes medos: perder força política e ir para a cadeia. A persistência dos golpistas na porta dos quartéis estimulada por ele, inclusive neste sábado (26), ao visitar Agulhas Negras, não vai levar a um golpe, mas o movimento servirá para ajudar a manter o bolsonarismo sob as asas de Bolsonaro no ano que vem.

O comportamento alucinado da turba mostra, contudo, que mesmo que Jair se torne irrelevante na cena pública, parte do país permanecerá doente por um longo tempo.