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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro alimenta golpismo que quer tumultuar diplomação de Lula pelo TSE

09.dez.22 - Presidente Jair Bolsonaro (PL) faz primeiro pronunciamento a apoiadores após derrota nas urnas - Reprodução/CNN Brasil
09.dez.22 - Presidente Jair Bolsonaro (PL) faz primeiro pronunciamento a apoiadores após derrota nas urnas Imagem: Reprodução/CNN Brasil

Colunista do UOL

11/12/2022 09h42

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Bolsonaro elogiou o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em seu discurso de diplomação, como presidente eleito, no dia 10 de dezembro de 2018. O contraste entre suas declarações naquele momento e o golpismo que fomenta agora confirma que, para Jair, a Justiça Eleitoral está certa quando ele vence e errada quando perde.

Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, serão diplomados em cerimônia, nesta segunda (12), no TSE. A documentação confirma que venceram as eleições e estão aptos a tomar posse.

A dez quilômetros do tribunal, centenas de bolsonaristas permanecem na porta do quartel-general do Exército, em protestos de caráter golpista, instigados por Jair. Nas redes sociais e grupos de mensagens, prometem realizar protestos contra a diplomação do petista e provocar tumultos. Por garantia, a segurança será reforçada pelo governo do Distrito Federal.

Desde que recuperou seus direitos políticos, com a anulação de suas condenações, em abril de 2021, Lula nunca foi ultrapassado por Bolsonaro nas principais pesquisas eleitorais. Nesse período, o presidente intensificou os ataques contra as urnas eletrônicas, acusando-as de fraude sem apresentar nenhuma prova.

Há quatro anos, o tom era diferente. "Parabenizo aqui a família da Justiça Eleitoral pelo extraordinário trabalho realizado nas eleições de outubro do corrente ano", afirmou Bolsonaro durante sua diplomação na sede do TSE.

Nos últimos dois anos, ele elegeu os chefes do TSE como inimigos públicos. Os ministros Luís Roberto Barroso e, principalmente, Alexandre de Moraes, foram sistematicamente atacados por ele e por seus aliados e seguidores.

Mas, naquela diplomação, houve até elogio aos ministros da corte. "A cada um de vocês, integrantes do TSE, dos tribunais regionais eleitorais, das Forças Armadas e do serviço exterior brasileiro, mesários, voluntários e tantos outros cidadãos que participaram das eleições, expresso meu muito obrigado", disse.

Naquele evento, ele chorou, tal como chorou em uma cerimônia militar, no último dia, 5, chorando de alegria e tristeza por si mesmo. Não há relato, contudo, que tenha gasto uma lágrima pelas 690 mil vítimas da covid-19.

Não foi coincidência Bolsonaro ter quebrado o silêncio em que se escondeu desde que perdeu o segundo turno e ido conversar, nesta quinta (9), com apoiadores na porta do Palácio do Alvorada. Três dias antes da diplomação de Lula, ele alimentou o golpismo dos seguidores que estão acampados à frente de quartéis em todo o país.

"Muitas vezes vocês têm informações que não procedem, e pelo cansaço, pela angústia, pelo momento, passam a criticar. Tenho certeza entre as minhas funções garantidas na Constituição, é ser o chefe supremo das Forças Armadas", disse. O estilo discursivo é claramente inspirado por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, especialista em atiçar a massa bolsonarista pelas redes.

Sem dar mais detalhes, Jair afirmou que "se algo der errado é porque eu perdi a minha liderança" e que "tudo dará certo no momento oportuno". Disse ainda que "quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são vocês; quem decide para onde vai as Forças Armadas são vocês". E pediu que "cada um avalie o que pode fazer pelo país".

Bolsonaro usou o discurso também para relembrar de todos os elementos simbólicos que permearam a relação com seus seguidores nos últimos anos. Falou do fantasma do socialismo, lembrou que a liberdade é mais importante que a vida, incendiou um patriotismo vazio, citou a facada que sofreu em setembro de 2018, deu a entender que as eleições não foram justas - criticando indiretamente a mesma Justiça Eleitoral que ele elogiou quando foi diplomado.

Foi uma reconexão entre golpistas e seu líder em um momento em que a fé estava arrefecendo com a aproximação do inevitável: a diplomação e a posse de Lula. Sem nada indicar que haverá um golpe real, resta ao presidente tentar manter acesa a chama do tumulto, para garantir sua influência junto a esse grupo.

Tomando o cuidado, claro, de não ser tão explícito para evitar (mais) um processo que pode leva-lo à prisão após deixar o poder.