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Fraude na vacina reforça que Bolsonaro crê que leis não se aplicam a ele
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Quem acompanhou Jair Bolsonaro nas últimas décadas sabe que ele usou a política para obter privilégios - desviando salários de servidores de seu gabinete, interferindo na Polícia Federal para blindar amigos, aproveitando-se do cargo para surrupiar joias. Mas, segundo a consultora Quaest, poucas ações recentes tiveram o impacto na sua imagem da fraude na carteira de vacinação.
Operação da Polícia Federal, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, realizou uma busca e apreensão na casa do ex-presidente nesta quarta (3). Investigações mostram que os registros de Jair, que jura que não tomou a vacina para covid-19, foram alterados para indicar que ele havia sido imunizado. E, dessa forma, poder viajar, em 30 de dezembro do ano passado, para os Estados Unidos - que exigem doses da vacina.
Ou seja, o presidente que se vende como "homem do povo", como "gente como a gente", como "simplão", como "aquele que veio da massa para enfrentar os privilégios de poucos" usou o poder emprestado a ele pelo eleitorado para tirar vantagem que nenhum cidadão comum poderia conseguir.
Qualquer semovente que não quisesse se vacinar teria dificuldades para viajar para fora do país ou mesmo entrar em alguns estabelecimentos que exigiam imunização. Por isso, houve seguidores de Bolsonaro que foram contrariados para fila do posto de saúde. Agora, esse pessoal descobre que seu herói, seu mito, seu tudo, não precisou fazer o mesmo porque agiu como se fosse um ser superior.
A questão que pega aqui para uma boa parte dos cidadãos não foi o crime de fraudar registros públicos, muito menos o de ele não ter se vacinado após fomentar o negacionismo em meio a uma pandemia que matou mais de 700 mil brasileiros. O pior é um ex-presidente, que se vendeu como um homem igual a todo mundo, que inclusive disse que se vacinaria após todos os demais, ter dado um jeitinho ilegal para beneficiar a si mesmo.
De acordo com a Quaest, a fraude na carteira de vacinação foi o assunto mais comentado nas redes sociais entre janeiro e maio deste ano - excluindo o 8 de janeiro, que ainda está sendo processado pela consultoria. Mais comentado até do que a questão das milionárias joias árabes surrupiadas da União por Jair. Em 24 horas, foram 464 mil menções e 26,5 milhões de interações, sendo que 81% delas negativas. Para efeito de comparação, no caso das joias, foram 60% de menções negativas.
"É, hoje, o assunto com o maior percentual de rejeição e mais comentado nas redes em um curto espaço de tempo", postou Felipe Nunes, diretor da Quaest. "Mesmo com uma força digital muito superior à do governo, a oposição parece ter sido engolida pela gravidade dos fatos - na opinião do próprio público digital."
Um homem do povo não tem o tenente-coronel Mauro Cid como ajudante de ordens que conseguiu, junto a um secretário de Duque de Caxias (RJ), um registro falso de vacinação para si, família e aliados a fim de poder burlar as leis do Brasil e dos Estados Unidos. Detalhe: como o Brasil é o país da piada pronta, o nome do secretário que deu o jeitinho no sistema se chama João Brecha.
Cidadãos comuns não têm acesso à brecha como Jair. Muitos dos seus seguidores mais fiéis tentam agora passar o tradicional pano - terceirando a culpa, dizendo que o crime foi pequeno ou - meu argumento preferido - afirmando que qualquer pessoa no lugar de Bolsonaro teria feito o mesmo. Ou seja, de que o caráter dos brasileiros é igual ao do seu ex-presidente.
Com exceção dos que não se importam se Jair xinga, rouba ou mata, a ação da Polícia Federal vai cobrar um custo grande para ele. Em um momento em que já está virtualmente inelegível devido ao julgamento dos crimes cometidos na campanha, ele também vai perdendo força como cabo eleitoral.
Principalmente entre os que começam a vê-lo como mais um do andar de cima que segue a Lei de Gerson, querendo sempre levar vantagem em tudo. Vai precisar montar muita cena fake de farofa com frango derramada no colo para tentar recuperar o prejuízo.