Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonarismo perde confiança em militar por falta de golpe, indica pesquisa

Apesar de uma profusão de conspirações envolvendo oficiais e das ações de parte da cúpula militar principalmente no caso das urnas eletrônicas, as Forças Armadas não derrubaram o vitorioso Lula para manter o derrotado Bolsonaro no poder. O sentimento de frustração de parte do eleitorado do ex-presidente, decorrente dessa ausência de apoio institucional a um golpe, ajuda a explicar os números da nova pesquisa Genial/Quaest.

A confiança nas Forças Armadas caiu de forma significativa de dezembro do ano passado até agora entre a população em geral. Levantamento, divulgado nesta segunda (21), mostra uma queda de 43% para 33% entre quem confia muito na instituição e uma alta de 18% para 23% entre quem não confia. Entre julho e dezembro de 2022, os que confiavam muito havia variado positivamente de 40% para 43%.

A queda foi puxada principalmente pelos eleitores de Bolsonaro: os que confiam muito passaram de 61% para 40% e os que não confiam, de 7% para 20%. Os que confiam pouco foram de 31% para 38%

Como Bolsonaro alardeava aos quatro ventos que era o comandante militar supremo, seus seguidores mais radicais acreditavam que, no dia D, na hora H, as Forças Armadas iriam agir para impedir o petista de subir a rampa do Palácio do Planalto ou mesmo prendê-lo. Isso ficou claro nas cenas patéticas de extremistas rezando por um golpe na porta de quartéis.

De fato, houve prisão logo após o 8 de janeiro, mas foram centenas de golpistas enviados à Papuda e à Colmeia. Somou-se a isso a remoção dos acampamentos golpistas montados na frente de quartéis em várias cidades do país (que haviam sido mantidos com a anuência dos chefes militares) e trocas em comandos do Exército. Com isso, bolsonaristas intensificaram os ataques aos militares, tachando muitos deles como "melancias" - verdes por fora, vermelhos por dentro.

Já os eleitores de Lula que confiam muito nas Forças Armadas oscilaram de 27% para 29% e os que não confiam de 25% para 26%, variando dentro a margem de erro de dois pontos. Isso mostra que não esperavam muito dos militares e não foram surpreendidos.

Por outro lado, há a opinião do grupo que não apoiou nem em Lula, nem em Bolsonaro no segundo turno: os votos nulos (3,9 milhões) e os em branco (quase 1,8 milhão), mas também os que não foram às urnas no dia 30 de outubro, ou seja, mais de 32,2 milhões de pessoas.

Entre esse grupo, caiu de 40% para 31% os que confiam muito nas Forças Armadas e oscilou de 24% para 25% quem não confia. Isso pode ser resultado do conjunto de falcatruas e ilegalidades nas quais Bolsonaro e militares se associaram.

Pode ter pesado que generais, almirantes, coronéis, majores, tenentes-coronéis, sargentos, entre outros, tenham sido envolvidos em escândalos - que vão de apoio aos atos golpistas no 8 de janeiro com a destruição das sedes dos Três Poderes até a participação em esquemas de subtração de joias que pertencem ao patrimônio público e sua venda no exterior.

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As Forças Armadas, que estavam em um processo de descontaminação da imagem por conta da ditadura, afundaram até o pescoço na lama junto com Bolsonaro nos últimos quatro anos na chance de retomar o poder. Agora, um novo banho de imagem vai levar um tempo.

Sim, ao que tudo indica, tivemos perda de confiança causada por dois fatores diferentes e opostos: para um lado, os militares não foram bolsonaristas o bastante; para outro, foram bolsonaristas demais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL