Com 'Bolsonaro Fujão', petistas comparam silêncio de Jair na PF com Lula
Jair e Michelle Bolsonaro exerceram seu direito a ficarem calados no depoimento à Polícia Federal sobre a investigação das joias surrupiadas para não produzirem provas contra si mesmos. Mas, com isso, "Bolsonaro Fujão", "Bolsonaro Covarde" permaneceram entre os termos mais postados em redes sociais nesta quinta (31).
A defesa do ex-presidente e da ex-primeira-dama se aproveitou do direito constitucional ao silêncio para vender a ideia de que ele ocorreu, na verdade, por discordância do foro competente para analisar o caso. Dizem que como Jair é ex-presidente, a investigação deveria sair do Supremo Tribunal Federal e ser remetido à primeira instância.
Para isso, usaram declarações de seu fiel escudeiro, o ainda procurador-geral da República, Augusto Aras, que, em entrevista ao site Metrópoles, prestou mais um favor a Bolsonaro ao questionar a possibilidade de anulação das provas. O que, convenhamos, é uma hipótese distante porque foi Alexandre de Moraes, do STF, que autorizou tudo isso.
O silêncio foi estratégico diante da falta de um beco sem saída trazido pela fartura de provas nas investigações. Assim que o presidente deixou a sede da Polícia Federal, comentei no UOL News que a comparação com Lula foi gritante.
O petista sempre discordou da 13ª Vara Federal de Curitiba como foro para julgar o seu caso na Lava Jato - o que viria a ser reconhecido pelo Supremo com 580 dias de prisão de atraso. Mas não usava essa justificativa para se furtar a responder às perguntas da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e do então juiz federal, depois ministro de Bolsonaro e, hoje, senador, Sergio Moro, antes de sua condenação.
Aliados de Lula e críticos de Bolsonaro não perdoaram e trouxeram a comparação à rede nesta quinta e sexta.
Simbolicamente, a situação é muito ruim para o ex-presidente. Com exceção de uma parte de seus seguidores que vive no Bolsoverso, o universo paralelo do bolsonarismo, onde cloroquina é melhor que vacina, urna eletrônica é programada para gritar 'Lula!' e o Rolex pertence a Jair, o restante da população entende que um político que fica em silêncio diante da polícia sobre acusações de roubo é porque tem culpa.
Dessa forma, as posturas de Lula e de Bolsonaro produziram efeitos diferentes em suas militâncias. Os depoimentos do petista passaram a imagem de que ele estava sendo alvo de uma injustiça, tornando a sua militância mais aguerrida para sair em sua defesa. Por outro lado, o silêncio do ex-presidente frustrou parte da militância que imaginava que ele esclareceria tudo aos policiais e depois daria uma grandiosa entrevista coletiva.
Saiu rapidinho, sem falar com a imprensa.