Leonardo Sakamoto

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Opinião

Dino, Moraes e Mendonça no STF, enquanto Moro chupou o dedo na Justiça

Flávio Dino é o indicado por Lula à vaga de Rosa Weber no STF. O petista é o terceiro presidente da República consecutivo a indicar pessoas que comandaram o Ministério da Justiça à Suprema Corte: Michel Temer apontou Alexandre de Moraes e Jair Bolsonaro, André Mendonça - que passou pela pasta e estava como advogado-geral da União.

Aliás, Dino é o primeiro ministro da Justiça que o PT indica ao STF. Mas Itamar Franco indicou Maurício Corrêa, Fernando Henrique colocou Nelson Jobim e José Sarney elevou Paulo Brossard - só para citar o período pós-redemocratização.

Nesse contexto, é irônico que um dos ministros da Justiça que mais queriam a vaga, Sergio Moro, ficou chupando o dedo.

Dino deixará de vez o Senado, para onde foi eleito no ano passado e de onde estava licenciado para atuar no Poder Executivo. Na sabatina, terá que responder a perguntas de Moro, senador enquanto o TRE-PR e o TSE não definirem o seu futuro.

Ambos foram juízes federais e ambos atuaram como auxiliares na Suprema Corte: Dino, no gabinete do ministro Nelson Jobim, Moro, no de Rosa Weber.

O maranhense de São Luís deixou a magistratura para entrar na política eleitoral. Foi deputado federal, presidiu a Embratur, governou o Maranhão por dois mandatos. É um dos nomes na esplanada em que Lula mais confia.

Já Moro entrou na política eleitoral ainda usando toga. À frente da Lava Jato, o paranaense de Maringá condenou Lula, abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro ao tirar o petista da eleição de 2018 e mantê-lo preso por 580 dias. Posteriormente, com a Vaza Jato revelando mensagens que mostraram que ele combinou o jogo da condenação com procuradores, teve seu trabalho anulado pelo STF.

Ele deixou o governo Bolsonaro em 2020, acusando o ex-chefe de interferência na escolha do superintendente da PF no Rio. Em depoimento sobre o caso, em 3 de novembro de 2021, Jair disse que Moro condicionou a troca no comando na Polícia Federal pela sua indicação ao STF. Na época, o ex-juiz e ex-ministro disse que isso era mentira e que não trocava "princípios por cargos".

Depois, quando fizeram as pazes no ano passado, o então presidente desaconselhou Moro a tentar o STF. Em um almoço com jornalistas, revelou que disse ao ex-ministro que o nome dele não passaria no Senado.

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Cristiano Zanin, advogado do petista no caso, com quem Moro teve embates ao longo do processo, por ironia do destino assumiu a primeira vaga de ministro do STF liberada no terceiro governo Lula.

Agora, Moro vê mais um que ocupou a pasta como ele ser indicado ao Supremo.

Há no STF ministros que nunca confiaram em Moro e outros que se sentiram traídos com as revelações da Vaza Jato. Seja como for, as duas alas respiram aliviadas que o indicado é o outro ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça. O que poderia ser diferente se um golpe de Estado tivesse sido consumado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL