Leonardo Sakamoto

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Opinião

Biden finalmente larga o osso, e a eleição nos EUA pode, de fato, começar

Após ser pressionado por grandes doadores de campanha, correligionários democratas, formadores de opinião, milhões de eleitores e até pelo SARS-COV-2, o presidente dos Estados Unidos Joe Biden desistiu de tentar a reeleição. Ele anunciou a decisão em uma carta divulgada nas redes sociais neste domingo (21). Com isso, a eleição pode, de fato, começar.

Todo mundo sabia que ele não tinha condições de ser candidato nem a síndico. Não apenas pela deprimente participação no debate com Donald Trump, em que se mostrou totalmente perdido, mas pelas gafes cometidas nas semanas seguintes, esquecendo o nome de funcionários, trocando Zelenski por Putin e Kamala por Trump, mostrando-se terrivelmente frágil para um processo como a eleição norte-americana, que se assemelha a um moedor de carne.

Até nomes fortes de seu partido, como ex-presidente Barack Obama e a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, vazavam recados públicos de que Joe não tinha mais condições.

O atentado sofrido por seu oponente, o ex-presidente Donald Trump, na Pensilvânia, foi a gota d'água. Se já era difícil vencer o republicano em condições normais, ficou ainda mais com o tiro que machucou sua orelha e, por pouco, não o matou. A vitimização (estratégia usada por Trump para justificar os processos contra ele, principalmente o que trata da tentativa de golpe de estado de 6 de janeiro de 2021) agora tem foto com punho erguido, sangue, uma bandeira e homens do serviço secreto.

Era improvável que Biden conseguisse resistir à pressão - principalmente do poder econômico que fechou-lhe as torneiras do financiamento de campanha. Era questão de tempo até desistir. O problema é que tempo é algo que os democratas pouco têm para construir uma alternativa. Que enfrentará questionamentos sobre a manutenção de Biden na presidência - não tem condições de concorrer, mas tem de terminar o mandato?

São menos de quatro meses daqui até as eleições, período em que eles precisam ungir um nome, demonstrar unidade em torno dele, bombá-lo como a melhor alternativa a Trump, garantir que ele desperte o sonho de uma vida melhor ou, pelo menor e seja empolgante o bastante para as pessoas sairem de casa para escolhê-lo em uma eleição não-obrigatória.

Biden agradeceu à vice-presidente Kamala Harris, cujo nome endossou para concorrer em seu lugar em uma postagem seguinte. Além dela, que não é lá muito popular e enfrenta o racismo e o machismo, pipocam apostas nos governadores de Michigan, Califórnia, Illinois e Pensilvânia. Além de unidade, o Partido Democrata vai ter que se esforçar para evitar que uma disputa pela vaga deixe rancores e para construir um nome à altura. Eles não precisam de alguém amado em todos o país, apenas nos estados-pêndulo, decisivos, que ora vão para um lado, ora para o outro.

Por sorte, a fase "paz e amor" de Donald Trump não durou muito. Em seus discursos após o atentado, ele até passou alguns minutos tentando demonstrar ser uma pessoa comedida. Mas, logo em seguida, despejou todo o chorume que alegra os supremacistas brancos e a extrema direita tresloucada - de promessas de deportação de imigrantes em massa até fake news em série sobre a economia e relações internacionais. Acabou jogando o seu chamado por "unidade" no lixo e pode ter queimando a vantagem de imagem obtida com a empatia pós-atentado, afastando o eleitorado moderado. Mostrou que teme ser vencido.

O que importa agora é que, com atraso, os democratas entram na disputa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL