Privatização de trens faz SP pagar mais por serviço pior. E lá vem Sabesp!
Apesar da linha de trem 9-Esmeralda se apresentar como uma bomba aos paulistas, com quebras, descarrilamentos e trombadas frequentes, a sua concessionária Via Mobilidade recebeu R$ 1,259 bilhão de repasses do Bilhete Único em 2022, enquanto a CPTM, apenas R$ 169 milhões.
Reportagem especial de Juliana Sayuri, no UOL, nesta segunda (27), aponta ainda que a Via Mobilidade transportou 342 milhões de passageiros no ano passado, frente a 442 milhões da CPTM, e ganhou bem mais. O motivo seriam cláusulas contratuais para atrair o setor privado.
Se colocar o Metrô no meio fica ainda mais feio, com a estatal tendo recebido R$ 291 milhões para transportar 794 milhões de semoventes.
A operação da 9-Esmeralda, da Via Mobilidade, é uma fonte de dor cabeça desde que foi privatizada, uma roleta russa para quem precisa dela diariamente. Às vezes, funciona, às vezes, você vai ficar em uma fila gigantesca para pegar um ônibus da operação Paese e chegar atrasado no trabalho, com desconto no ponto e tudo.
Em 14 de agosto, o MP-SP formalizou um Termo de Ajustamento de Conduta com a empresa para que ela dê um jeito nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda. Segundo nota do MP-SP, que chegou a estudar o fim do contrato com a Via Mobilidade, a empresa aceitou pagar uma indenização por "falta de qualidade na prestação de serviços".
Em outubro, durante a greve contra a privatização do Metro, da CPTM e da Sabesp, o governador Tarcísio de Freitas exaltou o serviço privatizado, que continuou funcionando quando os funcionários públicos cruzaram os braços. Logo depois, ele parou por conta própria, após parte do sistema ter uma falha elétrica. E, mesmo quando a greve de 24 horas já havia acabado, a linha 9 seguia com longas filas, atrasos, ranger de dentes.
Como já disse aqui, para os usuários, não importa se o pau ocorreu por falta de manutenção e de investimento, sobrecarga, vandalismo, sabotagem ou pelo ET Bilú ter descido aos trilhos em busca de conhecimento. Eles querem que a concessionária esteja preparada para resolver problemas rapidamente. O que, claramente, a Via Mobilidade não está.
São Paulo anda teria um ótimo lembrete de como uma empresa privatizada não é, necessariamente, segurança de um bom serviço com a tempestade de 3 de novembro, quando ventos fortes encontraram a incompetência da Enel.
Mais de dois milhões de paulistas ficaram 24 horas sem luz depois que a chuva atingiu a capital e o interior. Outras dezenas de milhares seguiram no escuro por uma semana. Ventos de mais de 80 km/h podem arrancar plantas saudáveis, mas em muitos pontos da capital paulista espécimes carcomidos por cupins ou com raízes podres caíram com sopros bem mais fracos que isso.
Na busca por aumentar o seu faturamento, a Enel não fez o investimento necessário em manutenção preventiva da rede elétrica em São Paulo e reduziu a sua força de trabalho direta e indireta, o que faz falta em momentos de crise. Soma-se a isso o fato que a Prefeitura também não fez sua lição de casa quanto à remoção de árvores condenadas ou em situação de risco.
Em meio a uma CPI da Enel, na Assembleia Legislativa de São Paulo, na qual uma das sessões foi interrompida pela falta de luz.
Enquanto isso, o governo está tentando vender a empresa paulista de saneamento básico, sob críticas da sociedade civil e de sindicatos. Como o modelo de entrega à iniciativa privada da gestão da água não funcionou em muitas cidades mundo afora, agora, há uma onda de reestatização do serviço.
O prefeito da capital, Ricardo Nunes, abraçou a privatização da Sabesp de olho no apoio eleitoral do governador. Uma cláusula permite à Prefeitura de São Paulo romper o contrato caso a companhia seja vendida, mas quer prorrogar o vínculo independente de quem assuma. A Câmara dos Vereadores, por outro lado, não tem certeza disso.
O governo paulista diz que o edital de privatização a Sabesp será diferente da Enel e da Via Mobilidade. Quem não tem memória que acredite.