Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonaro fecha o bico na PF para abrir berreiro no ato em prol do golpismo

Bolsonaro, conforme esperado, ficou em silêncio em seu depoimento à Polícia Federal, nesta quinta (22). Mas daqui a três dias, ele estará gritando a plenos pulmões para se justificar das acusações de que tentou dar um golpe de Estado, em um ato com a presença de seus seguidores radicais, na avenida Paulista, em São Paulo. Corajoso, né?

Para o fiel rebanho, que acredita em qualquer coisa que diga, Jair passará a imagem de um político transparente que não tem medo de se explicar diante de uma multidão. Para seres que não terceirizaram a capacidade de raciocínio, ele fugiu de dar respostas à autoridade policial (o que poderia piorar a sua já grave situação), preferindo o conforto de quem coloca "mito" e amém na mesma frase.

Claro que tinha o direito constitucional de ficar em silêncio - somos uma democracia, exatamente porque ele não teve sucesso em seu intento. Mas, sendo inocente como alega, poderia ter colocado tudo em pratos limpos.

Sua defesa diz que preferiu se calar porque não teve acesso aos arquivos da delação do seu ex-faz-tudo, Mauro Cid. Um de seus advogados, Paulo Cunha Bueno, chamou a investigacão de "semissecreta" e garantiu que Jair "nunca foi simpático a qualquer tipo de movimento golpista".

A questão é que, na avaliação de Bolsonaro, nunca houve golpe militar de 1964, mas sim uma revolução patriótica. Sob o seu ponto de vista, o mesmo ocorreria com o atropelamento das instituições entre 2022 e 2023, se o golpe fosse consumado por ele. Ou alguém duvida que, se hoje estivéssemos sob o seu governo, ele trataria de calar a imprensa, exilar opositores, desaparecer com adversários e reescrever os livros de História?

Além do mais, secreta foi a conspiração que envolveu generais e almirante, forças especiais do Exército, políticos aliados, empresários amigos, comunicadores cooptados e milhares de vândalos radicais para manter Bolsonaro no poder mesmo com a sua derrota nas eleições.

O ex-presidente organizou sua micareta em defesa do seu próprio golpismo, a ser realizada neste domingo (25), em São Paulo, a fim de encarecer o custo de sua condenação em prisão. Pelo andar da carruagem, ele vai para o xilindró, mais cedo ou mais tarde.

Mas o ato também visa a manter sua tropa unida visando às eleições. Afinal, pior do que estar inelegível e ser preso é estar inelegível, preso e se tornar irrelevante politicamente. O que pode acontecer se alguém o substituir no comando da extrema direita.

A quantidade de provas e evidências sobre o plano de Jair Bolsonaro para tentar se perpetuar no poder é grande. Precisaria, para ser ignorado, de uma conspiração muito maior do que aquela que ele tentou aplicar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL