Leonardo Sakamoto

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Opinião

Pensando em si mesmo, Bolsonaro pede anistia aos condenados por golpismo

O ponto alto do recuado discurso de Jair Bolsonaro, no ato convocado para defendê-lo e passar pano sobre o seu golpismo, neste domingo (25), na avenida Paulista, foi o pedido para que o Congresso Nacional aprove uma anistia para os "pobres coitados do 8 de janeiro". Ou seja, os bolsonaristas processados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal por participar dos atos golpistas.

Usando a solidariedade aos seus seguidores como justificativa, Bolsonaro defendeu, na prática, um projeto de lei que pode beneficiá-lo. Hoje, ele é investigado por uma tentativa de golpe de Estado que teve no 8 de janeiro uma de suas peças. E é provável que venha a ser condenado e preso como idealizador e principal beneficiário.

"Uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliação!", pediu o ex-presidente, o último a discursas em cima do trio elétrico para uma multidão de seguidores.

"Já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil", afirmou, referindo-se à Lei da Anistia, que beneficiou militares e civis ligados aos governos militares e opositores.

Organizações da sociedade civil vêm demandando uma revisão da legislação que, hoje, é usada para proteger torturadores e assassinos que cometeram crimes contra a humanidade na ditadura. A Corte Interamericana dos Direitos Humanos já condenou Brasil por conta da Lei da Anistia, declarando que ela deveria ser invalidada, o que o Supremo Tribunal Federal não acatou.

Jair defendeu a prisão apenas para "quem depredou patrimônio público", como se atentar contra a democracia não fosse muito mais custoso para uma nação.

Sob o claro medo de ser acusado de incitar a população contra as instituições (o que poderia mandá-lo para a cadeia antes do final de um processo), Bolsonaro fez uma fala que, nem de longe, lembrou aquela de 7 de setembro de 2021, quando chamou o ministro Alexandre de Moraes, hoje relator dos atos golpistas no STF, de "canalha" em plena avenida Paulista.

Ele pediu para que os deputados bolsonaristas presentes no ato, como Gustavo Gayer, Marco Feliciano e Nikolas Ferreira, tocassem a proposta no parlamento, demostrando o medo que ele está de ir para o xilindró.

Sob a justificativa de "pacificar" o país, ele tenta convencer a turma que faltou às aulas de História que o melhor é um arranjo para não puni-lo pelos crimes que cometeu.

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Porém, o apelo para que pague por tudo o que deve não é vingança, nem revanchismo. Tampouco é parecido com o projeto de sociedade miliciana defendido pelo bolsonarismo, onde a Justiça é trocada pelo justiçamento. Na qual a mediação dos conflitos pelas instituições é substituída pela possibilidade de cada um resolver seus problemas na base da força.

Pelo contrário, o cidadão Jair Bolsonaro precisa ser denunciado, processado, julgado e punido, com todo o direito à defesa. Se ele quiser realmente fortalecer o Estado Democrático de Direito, mote cínico da manifestação de hoje, não deveria tentar impedir o curso da Justiça. De novo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL