Leonardo Sakamoto

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Opinião

Quase 90% de ato pró-Bolsonaro vivem realidade paralela em que Lula perdeu

O dado mais assustador da pesquisa realizada com os manifestantes do ato pró-Bolsonaro, neste domingo (25), na avenida Paulista, é que 88% acreditam que foi ele e não Lula quem de fato ganhou as eleições de 2022.

O número é do levantamento do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo. A margem de erro é de quatro pontos.

Isso significa que quase nove em cada dez manifestantes vivem uma realidade paralela, na qual Lula perdeu a eleição, apesar de ter vencido por 2,1 milhões de votos em 31 de outubro de 2022. Ou seja, para eles, foi o petista e não Jair quem deu o golpe.

O que ajuda a explicar que, na opinião de 94% desse grupo, vivemos uma ditadura, também de acordo com a pesquisa.

Esse resultado é fruto da intensa campanha de ataques contra o sistema brasileiro de votação levada a cabo por Bolsonaro, que acusou o Tribunal Superior Eleitoral de estar mancomunado com o PT, apesar de nunca ter apresentado provas disso.

Em 2022, avisamos que as consequências disso poderiam ser mais duradouras do que o próprio mandato de Bolsonaro - e as opiniões colhidas na avenida Paulista, agora, provam isso.

Nos Estados Unidos, o então presidente Donald Trump, referência de Jair, também atacou o sistema eleitoral, acusando-o de fraude. A desconfiança plantada pelo republicano empurrou milhares de seus seguidores a invadir o Congresso em 6 de janeiro de 2021, ação que terminou com cinco mortos e feridos.

Qualquer semelhança com o 8 de janeiro de 2023 não é coincidência, mas sintoma de sociedades doentes.

Um ano depois, uma pesquisa da Universidade de Massachusetts Amherst e do Instituto YouGov apontou que 22% dos eleitores acreditavam que a vitória de Joe Biden havia sido certamente ilegítima e 11% provavelmente ilegítima, enquanto 46% apontavam que ela foi com certeza legítima e 12% provavelmente legítima.

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Dentre os republicanos, 71% desconfiavam da legitimidade da eleição de Biden. Donald Trump conseguiu, dessa forma, gerar a dúvida sobre o sistema eleitoral de seu país, fraturando uma de suas mais antigas instituições junto àqueles que votaram nele. Garantiu, a um custo altíssimo para a República, um terreno político adubado para manter seus seguidores e se candidatar novamente em 2024 - o que está acontecendo neste momento. E ele tem grandes chances de ganhar.

Os manifestantes do ato deste domingo, pouco mais de um ano depois dos atos golpistas que vandalizaram as sedes dos Três Poderes, votaram em Bolsonaro, mas nem todos os que votaram em Bolsonaro (quase metade dos eleitores que foram às urnas) acham que foi ele e não Lula quem venceu. Mesmo assim, se 88% do bolsonarismo-raiz (que engloba entre 15% e 20% da população) vive essa realidade paralela, já é muita coisa.

O suficiente para, se não tomarmos cuidado, representar uma ferida aberta que pode crescer e infeccionar a democracia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL