Leonardo Sakamoto

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Opinião

Em SP, 69% discordam de Michelle e apoiam 'dar a César o que é de César'

Quase sete em cada dez paulistanos discordam da afirmação de que política e religião devam andar juntas para a capital paulista melhorar. De acordo com o Datafolha, 55% rechaçam a frase e 14% discordam em parte, enquanto 20% concordam totalmente e 10% parcialmente.

Ainda assim, 20% é bastante gente. O suficiente para lotar quarteirões da avenida Paulista para bater palmas para um investigado por tentativa de golpe de Estado.

No ato em defesa de Jair Bolsonaro, em 25 de fevereiro, a ex-primeira-dama e diretora do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, defendeu o contrário. A base disso é uma interpretação forçada do capítulo 1 do livro de Gênesis, sobre subjugar o planeta.

"Por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de falarmos que não poderia misturar política com religião, e o mal ocupou o espaço", afirmou. "Chegou o momento da libertação." Libertação para quem é a questão.

A fé pode se juntar à política com o objetivo de libertar o espírito e o corpo da opressão, como na Teologia da Libertação católica ou em movimentos semelhantes que existem entre evangélicas - só para citar a cristandade. Ou ser instrumento para causar dores, caminho para reduzir a dignidade de outra pessoa ou servir para limitar os direitos de outro grupo social.

Quantos adeptos de religiões de matriz africana não sofrem com administradores públicos que abraçam interpretações fundamentalistas da fé, ignorando ou fomentando violência? Quantas mulheres são obrigadas a existir para servir a seu marido/pai/irmão devido a interpretações equivocadas das sagradas escrituras? Quantas pessoas não são espancadas e mortas por não caberem no gabarito de vida entregue pelo bispo, pastor ou padre?

Há quem diga que o povo quer um candidato que guie suas ações pela Bíblia. Particularmente, seria melhor um que se guiasse pela Constituição. E garanta a separação Estado e religião, relação que, por aqui, anda querendo formalizar união estável.

O sábio de barba (Jesus de Nazaré, não Karl Marx) disse, segundo o Evangelho de Mateus, capítulo 22, versículo 21: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". E não: "César é Deus e Deus é César".

Sobre isso, tomo emprestadas as palavras de Sharon Acioly: "ado-ado-ado, cada um no seu quadrado".

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Graças a Deus, o paulistano indica que está mais com Mateus e Sharon do que com Michelle.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL