Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonaro pode ficar calmo, pois Brasil não invade embaixada como Equador

Atropelando as convenções internacionais, a polícia equatoriana invadiu, nesta sexta (5), a Embaixada do México, em Quito, onde estava refugiado o ex-vice-presidente Jorge Glas, e o prendeu. Jair Bolsonaro, que se refugiou por dois dias na Embaixada da Hungria, em Brasília, com medo de ser preso, pode ficar tranquilo, pois o governo brasileiro sob Lula nunca invadiria território protegido por convenções internacionais como fez Daniel Noboa do Equador.

O empresário-presidente, eleito com discurso de centro, mas que governa à direita, tenta justificar o injustificável dizendo que o asilo concedido a Glas é ilegal uma vez que ele foi condenado a seis anos de prisão por corrupção. Na prática, é como se território soberano de outro país tivesse sido invadido por um governo que se diz amigo. Com isso, o México cortou relações diplomáticas com o Equador e o Brasil condenou veementemente a agressão. Lula, inclusive, declarou solidariedade a Andrés Manuel López Obrador, presidente do México.

Ironicamente, o Equador teve a inviolabilidade de sua embaixada em Londres respeitada enquanto deu refúgio ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, entre 2012 e 2019. A polícia do Reino Unido entrou no local somente com autorização do presidente equatoriano Lenín Moreno, que suspendeu o asilo dado por seu antecessor, Rafael Correa, alegando que o jornalista desrespeitou os termos acordados para a sua permanência na embaixada.

A retirada do asilo colocou em risco a vida de Assange, pois os Estados Unidos procuram vingança desde que ele divulgou os esquemas de espionagem global do governo norte-americano.

A decisão de Moreno foi péssima, mas, ainda assim, o Reino Unido não invadiu a Embaixada do Equador ao contrário do que o Equador fez agora com a Embaixada do México.

Bolsonaro chegou à Embaixada da Hungria no dia 12 de fevereiro após ter o passaporte retido por ordem do STF para evitar fugas. Imagens de câmeras de segurança mostram o ex-presidente sendo recebido pelo embaixador Miklos Halmai, representante do autocrata Viktor Orbán, segundo reportagem do jornal The New York Times.

Considerando que ele não estava atrás de um bom prato de goulash húngaro e nem de um Airbnb de luxo, o "mito" se muquiou com medo de um desdobramento da operação da Polícia Federal o levar para o xilindró. Na prática, houve um pocket asilo a Bolsonaro, uma vez que terreno de embaixada conta, por convenções internacionais, com imunidade.

Com base no comportamento da diplomacia brasileira sob governos democráticos, afirma-se, sem sombra de dúvidas, que algo como ocorreu em Quito não aconteceria em Brasília. Talvez fosse negado a Bolsonaro um salvo-conduto para deixar a Embaixada da Hungria e pegar um voo em direção a Budapeste, mas nunca uma invasão.

Ou seja, diante de tantas outras preocupações, como condenação e prisão por golpe de Estado, essa Jair não tem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL