Leonardo Sakamoto

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Opinião

Nova proposta para PL do Estuprador vai mandar meninas pobres ao cemitério

Devido à pressão social contra o PL do Estuprador ou PL da Gravidez Infantil, os ultraconservadores se mobilizaram e tentam, agora, maquiar a ideia. Inspirado pela diretora do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, uma nova proposta deve ser apresentada para punir os profissionais de saúde e não as mulheres que realizarem abortos após a 22ª semana de gestação - mesmo nos casos de estupro, previstos em lei. Na prática, isso vai aumentar o aborto inseguro realizado por conta própria e, consequentemente, o número de óbitos.

Sem médicos e enfermeiros que realizem uma interrupção segura no Sistema Único de Saúde (SUS), mulheres vão usar agulhas de tricô, carvão e produtos químicos perigosos no desespero. Porque uma mulher que quer fazer um aborto, fará. Mortes causadas por complicações costumam ser extremamente dolorosas. Ou seja, a mudança pode condenar à tortura e morte.

E quem vai morrer é pobre. Porque as ricas continuarão usando clínicas particulares, como sempre foi.

Segundo a coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), autor do projeto original que equipara aborto a homicídio, diz que a grávida que desejar abortar após a 22ª semana terá que dar à luz. Como muitos fetos não são viáveis nesse momento, vai ter gente sendo obrigada a escolher: continuar gestando o fruto de seu estupro ou jogar a roleta-russa do aborto inseguro.

Ao final, a proposta inspirada por Michelle tripudia o direitos das mulheres e trata as brasileiras como idiotas. Porque proibir o profissional de saúde de fazer o procedimento (como queria inicialmente o Conselho Federal de Medicina, que teve uma resolução suspensa pelo STF) é empurrar mulheres à solidão e à morte.

Em outras palavras, a nova proposta não vai mandar mulheres para a cadeia por mais tempo que o estuprador, como a ideia original, mas direto para o cemitério.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL