Votação mostra que Nunes deve mais a vereadores do que a Tarcísio
O mapa de votação do município de São Paulo indica que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) deve mais aos vereadores de sua base na Câmara, e às lideranças econômicas e comunitárias atreladas a eles, do que ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu principal apoiador devido à ausência de Jair Bolsonaro de sua campanha.
Guilherme Boulos (PSOL) venceu na região Noroeste (como Perus, Anhanguera...), nos extremos da Zona Leste (Cidades Tiradentes, Itaim Paulista...), na região Sudoeste (Campo Limpo, Jardim Ângela...), ou seja, as franjas onde o petismo normalmente tem boa votação. Mas também em áreas mais ricas no Oeste (como Pinheiros e Perdizes) e na região central (como a Santa Cecília).
Pablo Marçal ganhou no eixo histórico do janismo e do malufismo, na Zona Norte (como a Vila Maria) e a parte da Zona Leste mais próxima do Centro (Mooca, Tatuapé e até Itaquera).
Ricardo Nunes ficou com parte da Zona Norte (Casa Verde, Freguesia do Ó...) e boa parte da Zona Sul, incluindo Parelheiros e Grajaú. A ZS era base eleitoral do então vereador Ricardo Nunes, de seu aliado e presidente da Câmara dos Vereadores, Milton Leite (União Brasil), e de vários dos vereadores que apoiam sua campanha à reeleição.
Obras e políticas de seu governo e a ação dos políticos e lideranças vinculando-as a ele pesaram para o voto nessa região. Unidades de Pronto Atendimento, asfaltamento de ruas, linhas de ônibus, passe livre aos domingos. Vale lembrar que a população mais vulnerável está menos interessada se houve máfia das creches e sim se há uma creche aberta e disponível perto de casa.
Mas essa parte da cidade também é a base de uma importante família política petista, os Tatto, tanto que a região que tem na Capela do Socorro seu epicentro foi apelidada de "Tattolândia". Nesta eleição, o clã perdeu força. O vereador Jair Tatto se reelegeu, mas outro membro da família, o histórico vereador Arselino Tatto, que está no nono mandato, não teve êxito.
Não foi a presença do governador Tarcísio de Freitas que trouxe os votos dessa região para Nunes, mas sim a ação dos vereadores, das lideranças e das políticas. Sem isso, o prefeito nem teria sido ultrapassado por Marçal, que teve apenas 81,9 mil votos a menos de um total de 6,1 milhões de votos válidos.
A maioria dos bolsonaristas iriam com Marçal, como a pesquisa Datafolha já havia indicado. O que salvou Nunes de ficar fora do segundo turno, além dos tiros no pé do próprio coach, foi o eleitor de Lula de 2022. Este grupo está mais interessado na discussão sobre a sua qualidade de vida do que em ladainhas sobre esquerda e direita. Apertou o 13 naquela época por conta da promessa de "churrasco e cerveja", não de combate ao fantasma do comunismo.
A entrada de Lula no segundo turno da campanha ao lado de Boulos pode ajudar a retomar parte da Zona Sul perdida para Nunes e sua base — o petista ganhou na maioria dos bairros da região no segundo turno da eleição presidencial.
Para tanto, o embate vai passar pela economia. E ele já começou: assim que Nunes começou a defender que está melhorando a qualidade de vida nas periferias, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota afirmando que o governo federal tem atingido quase 680 mil famílias por mês com o Bolsa Família. Uma clara resposta à campanha.
Nunca a eleição esteve tão equilibrada. Não apenas pelo resultado final da votação do primeiro turno, com Nunes marcando 29,48%, Boulos, 29,07%, e Marçal, 28,14%. Mas também pela distribuição de votação nas zonas eleitorais neste ano. Nenhuma das três forças principais se destacou, nem nos extremos pobres, nem no centro mais rico.
Um cenário apertado geral se repetiu em cada uma das zonas eleitorais. A única em que um candidato teve mais de 40% foi a 1ª Zona Eleitoral da Bela Vista, que envolve uma parte do centro da cidade, na qual Boulos teve 43,66%. A conferir se, com a os votos herdados dos demais candidatos e a chegada dos cabos eleitorais Lula e Bolsonaro neste segundo turno, o cenário se altera.