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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O golpe vem aí

General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira  - Reprodução/Exército
General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira Imagem: Reprodução/Exército

Colunista do UOL

26/08/2021 09h55Atualizada em 26/08/2021 15h43

O Brasil não vai resistir ao processo eleitoral de outubro de 2022 tendo Jair Bolsonaro na Presidência da República. E mais: como candidato à reeleição. O cenário que está sendo desenhado é de transformar o longo caminho até a posse do novo presidente da República, a 1º de janeiro de 2023, em uma sucessão de crises que elevará a temperatura política a um grau nunca alcançado na história republicana.

Diferentemente de Donald Trump que questionou o resultado eleitoral após a realização do pleito, Bolsonaro vêm atacando - sem apresentar provas - as urnas eletrônicas desde o ano passado. Caminhamos, se chegarmos às eleições, celeremente para a guerra civil.

Nada indica que Bolsonaro vá aceitar a inevitável derrota eleitoral. Assim como um processo eleitoral democrático, debatendo ideias e projetos para o país. Tal dinâmica iria expor a fragilidade política do "mito." Não custa imaginar um debate entre Lula, Ciro, Doria, Mandetta e.... Bolsonaro. Como o "mito" se sairia? Sacaria um revólver? Ameaçaria o oponente com palavras de baixo calão? Seria arrasado, desmoralizado. Iria fazer de tudo para fugir dos debates.

Bolsonaro não rima com democracia. Nunca rimou. Ele vai - e não faltam demonstrações explícitas - partir para o golpe de Estado. Deve ser reconhecido que tem trabalhado muito - e bem - para este objetivo.

Desde 1º de janeiro de 2019 atacou sistematicamente os fundamentos do Estado democrático de Direito. Nos ministérios destruiu o que foi edificado desde o processo de redemocratização. Fomentou o ódio em dezenas de pronunciamentos, mentiu sobre o passado político recente - em especial, a ditadura militar -, defendeu torturadores, desmoralizou a política externa, isolou o Brasil na comunidade internacional e agiu deliberadamente contra a compra das vacinas que levou a óbito mais de 575 mil brasileiros.

Desde o ano passado tem incentivado manifestações golpistas - participando pessoalmente de várias delas. Numa articulação nunca vista na história republicana, reuniu um grupo de sequazes financiados com dinheiro público e privado - neste caso, da elite rastaquera - para caluniar e difamar autoridades, falsificar notícias e desmoralizar as instituições republicanas. E se não fosse a ação firme do Supremo Tribunal Federal, hoje estaríamos numa ditadura.

Bolsonaro conseguiu desarticular a estrutura de comando das polícias militares de todos os estados da Federação. O efeito desta ação subversiva vai certamente trazer sérios problemas à segurança pública. Nada indica que, à curto prazo, será possível restabelecer a cadeia de comando. Os princípios da hierarquia e obediência foram abandonados e substituídos pela relação direta com Bolsonaro. A liberação indiscriminada para a compra de armas levou a formação de grupos informais de paramilitares - e são milhares espalhados pelo Brasil - que poderão ser mobilizados no momento do golpe de Estado.

A conquista das Forças Armadas para a tomada violenta do poder - e a interrupção do processo democrático - está sendo realizada com eficiência.

Das três Forças, o que importa é ter o controle de uma delas, a principal: o Exército. Se o general Edson Pujol foi um obstáculo para Bolsonaro, o mesmo não se aplica ao general Paulo Sérgio. Este age afinado plenamente com o capitão terrorista. Não puniu o general Eduardo Pazuello que praticou um ato gravíssimo de indisciplina. No Dia do Soldado fez um pronunciamento que sinalizou apoio irrestrito a Bolsonaro. Depois das platitudes sobre a vida de Caxias, o general deu o seu recado. Afirmou que o Exército vai cumprir a sua "missão" que, segundo ele, foi delegada pelos brasileiros na Carta Magna. É uma clara referência ao que os golpistas chamam de "intervenção militar."

No texto - um pouco confuso, para dizer o mínimo - o general Paulo Sérgio fez questão de afirmar, antes de expor a "missão" do Exército, que age sempre sob o comando de Bolsonaro. Ou seja, "sob a autoridade do Presidente da República." Qual missão? A "delegada pelos brasileiros na Carta Magna." Mais claro, impossível: o general afirmou que o Exército está pronto para agir contra as instituições democráticas. E como? Quando Bolsonaro impuser o estado de sítio para "restabelecer a ordem." Exagero? Veremos.

Jair Bolsonaro não discursou na cerimônia. Nem precisava. O general Paulo Sérgio falou por ele. E não deixou dúvida: está alinhado com o golpe bolsonarista.