Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Centrão e bancada evangélica são produtos do lulofernandismo
PSDB e PT ficaram no poder por 21 anos. Poderiam ter reformado e democratizado plenamente o país. Tinham como aliados a nova Constituição, o momento histórico favorável e o tempo —mais de duas décadas. Nada de concreto fizeram. Optaram pela conciliação, velha mania nacional. Teriam de enfrentar obstáculos políticos, lutas ásperas, arriscar. Uma nova ordem só surge após o enfrentamento e a destruição da anterior —se não no seu conjunto, ao menos nos seus fundamentos.
Dois pilares da atual política brasileira foram cevados pela dupla PSDB-PT. O Centrão e a bancada evangélica. São criações recentes e se fortaleceram nos anos de poder do "lulofernandismo." Curiosamente, PT e PSDB são frutos de São Paulo, da modernidade, do que havia de mais avançado na sociedade de classes. Apontaram possibilidades de uma nova política e de um olhar identificado com o que havia de mais avançado à época. No discurso prometeram mudanças que poderiam conduzir o Brasil a um novo patamar após o encerramento do ciclo político populista, da política de substituição de importações, do Brasil potência, das antigas contradições advindas da sociedade moldada após a deflagração da Revolução de 30.
Venceram seis eleições presidenciais consecutivas. Um feito digno de nota. Tiveram todos os instrumentos para desenhar e moldar o Brasil do século 21. Como em todo processo político iriam enfrentar os fatores de conservação. Mas a mudança deveria prevalecer. A nova ordem não seria uma cópia descorada da velha ordem. Tinham quadros políticos, ideias e alguma experiência administrativa. Estavam, portanto, preparados para a disputa com um passado que não queria passar.
Contudo, optaram, conscientemente, pela aliança com o novo coronelismo, o Centrão somado aos pastores evangélicos. Desta forma, governaram quase sem qualquer tipo de oposição parlamentar. Fatiaram a estrutura estatal e entregaram aos novos coronéis posições de força. Justificaram com a suposta necessidade de obter maioria parlamentar para governar. Entretanto, ao invés de darem o rumo, a direção política, foram, paulatinamente, dominados pelos seus aliados de ocasião, que, espertamente, aceitaram a fraseologia vazia, inócua, do lulofernandismo para obter posições de mando no Estado, além de consolidar e solidificar um eleitorado passivo, obediente, que a cada dois anos referenda bovinamente o que determina seus líderes.
Desta forma, foram crescendo e se espalhando pelos Três Poderes. Se acharam com o direito de ir capturando e fatiando instâncias da estrutura estatal. Conseguiram. E obtiveram a chancela do lulofernandismo. Estes buscaram a esfarrapada justificativa de que era necessário construir condições de governabilidade. Governabilidade para quê?
Agora são eles que ditam o ritmo da vida de 220 milhões de brasileiros. O Estado laico, por exemplo, é uma ficção. As cenas que assistimos nos últimos dias são mais que esclarecedoras. Prédios públicos foram utilizados para cerimônias religiosas nas quais o objetivo político de capturar nacos e mais nacos do aparelho estatal foram expostos sem nenhum pudor. Figuras caricatas, representantes de um país que nós não nos reconhecemos, ditaram quem e como seria indicado um ministro para a Suprema Corte, que lá permanecerá por quase três décadas!
Chegamos ao ponto de líderes evangélicos determinarem ao seu "rebanho" como devem votar, violando abertamente o direito constitucional de escolha. Tudo isso sem que ninguém levante a voz. Afinal, a cada dois anos temos uma eleição e a romaria em direção aos templos evangélicos é considerada indispensável. Ou seja, são aceitos o jogo e as regras estabelecidas por aqueles que maculam a liberdade de voto, base fundamental da democracia.
Tanto Fernando Henrique como Lula tiveram duas décadas para governar e estabelecer os fundamentos do Brasil do século 21. Por comodismo —ou falta de percepção histórica?— resolveram dar corda ao novo coronelismo. Tudo para não ter de fazer política, que levaria a uma série de confrontos, absolutamente naturais e legítimos, numa democracia. A paz parlamentar que tanto almejaram produziu o monstro que está devorando a nossa democracia.
Em 1964, havia um curioso dito: chega de intermediários, Lincoln Gordon no poder. Gordon era o embaixador americano. Fico pensando se não seria mais fácil —e prático— elegermos Cabo Daciolo presidente do Brasil.
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